Nos distritos 9 e 10 de Paris, as padarias Mamiche enfrentam dificuldades para garantir o fornecimento de manteiga de qualidade, componente essencial para seus folhados de chocolate e croissants. A escassez do ingrediente, que se mantém com preços recordes globalmente, tem forçado produtores a buscar alternativas mais caras e impacta a produção de alimentos de alta qualidade na França e no mundo.
Impacto da alta do preço da manteiga na produção artesanal
O fornecedor habitual da Mamiche não consegue mais assegurar o fornecimento regular do beurre de tourage, uma manteiga laminada usada em massas folhadas. Para manter sua produção, a padaria é obrigada a recorrer a outros fornecedores, que cobram entre 25% e 30% a mais pelo produto, conforme afirmou Robin Orsoni, operador comercial da Mamiche.
Fatores que impulsionam o aumento dos preços da manteiga
Os preços permanecem próximos de níveis recordes em grande parte do mundo, resultado de uma combinação de fatores: dificuldades enfrentadas por produtores na França e na Nova Zelândia, aumento da demanda na Ásia e decisões comerciais de processadores de leite que buscam proteger sua rentabilidade. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), cerca de 70% da manteiga exportada mundialmente vêm dos dois locais, ambos com estoques historicamente baixos nesta temporada.
O aumento dos custos também reflete uma cadeia produtiva afetada por questões climáticas e problemas sanitários, como o vírus da língua azul, que afeta vacas na Europa, além de uma redução no rebanho por pressão financeira. A produção de leite na Nova Zelândia, grande exportadora do produto, permanece abaixo do nível pré-pandemia, dificultando a reposição de estoques.
Consequências do aumento no consumo de manteiga
Embora os processadores na Europa priorizem a produção de queijo, o consumo global de manteiga cresce cerca de 2,7% em 2025, impulsionado especialmente pela Ásia. Países como China, Índia e Taiwan demonstram aumento expressivo na demanda, com elevações de 6%, 3% e 4%, respectivamente.
Na Ásia, padarias e restaurantes apostam na manteiga para diversificar suas receitas. Em Hong Kong, a padaria Bakehouse aumentou seu uso anual de manteiga em quase 100 toneladas, usando diferentes fornecedores para garantir o abastecimento, segundo Gregoire Michaud, cofundador da rede.
Reação dos consumidores e os desafios atuais
Nas regiões ocidentais, o consumo também ganha fôlego após anos de resistência, com consumidores buscando alternativas mais naturais, como a manteiga, em contraposição aos alimentos ultraprocessados. No Reino Unido, por exemplo, o aumento nas compras de manteiga em bloco reflete essa tendência, mas o impacto dos preços ainda é sentido.
Chefs e estabelecimentos gastronômicos já sentem a mudança de gosto dos consumidores. Ben Marks, do restaurante Perilla em Londres, substituiu a manteiga por azeite de oliva em suas receitas para reducir custos, uma prática que deve se tornar comum diante da alta dos preços.
Previsões e perspectivas futuras
Especialistas alertam que o cenário não deve melhorar facilmente. Eventos como a onda de calor na Europa podem reduzir ainda mais a produção de leite, intensificando a escassez. Além das condições climáticas, conflitos geopolíticos e guerras tarifárias continuam pressionando os preços de commodities, incluindo a manteiga.
Para o setor, a estratégia da Bakehouse em Hong Kong e de outros produtores é diversificar fornecedores e absorver custos, mas a tendência indica que os preços ao consumidor final devem seguir em alta, conforme apontam analistas do setor de laticínios.
Fonte: O Globo