O secretário de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, Robert F. Kennedy Jr., revelou na semana passada que uma das propostas do projeto “Make America Healthy Again” (MAHA) pode, na verdade, causar efeitos negativos à saúde pública. Kennedy, conhecido por suas posições questionáveis sobre vacinas e outros temas de saúde, afirmou que a retirada do fluorido da água potável poderia levar a um aumento significativo de cáries entre as crianças, especialmente nas famílias de baixa renda.
Discussão sobre a eliminação do fluorido na água
Durante entrevista no programa The Faulkner Focus, Kennedy mencionou que a decisão de eliminar o fluorido se trata de um “equilíbrio” entre diferentes fatores. Ele afirmou que essa medida poderá resultar em “leves mais cáries”, o que levanta preocupações sobre os possíveis prejuízos à saúde bucal da população infantil.
O Comitê Americano de Odontologia (ADA), por sua vez, reforçou que a fluoretação da água é uma prática segura e eficaz, com mais de 80 anos de evidências de sua contribuição para a redução da cárie dentária. Segundo comunicado divulgado em abril de 2025, a ADA afirma que a água fluoretada “é fundamental para a saúde oral” e sua retirada pode promover um aumento nas despesas com tratamentos dentários, estimados em cerca de 300 dólares por ano por cidadão.
Consequências na saúde pública e críticas internas
Em diversas cidades ao redor do mundo, a retirada do fluorido da água resultou em incontestáveis aumentos de problemas dentários. Toronto e Calgary, no Canadá, reintroduziram o fluorido após anos de suspensão, devido ao aumento de casos de infecções dentárias em crianças. Na própria Calgary, observou-se um aumento expressivo na necessidade de antibióticos para tratar infecções causadas por cáries.
Reações nas redes sociais, especialmente no Reddit e Twitter, mostram uma forte preocupação da população. Usuários questionam a lógica de acabar com um benefício comprovado, enquanto sugerem outras prioridades de saúde pública, como a redução de chumbo na água.
“Como podemos estar pensando em mais cáries e mais gastos na saúde, enquanto não se discute algo mais importante, como a eliminação do chumbo na água?”, pergunta um usuário no Reddit, refletindo o sentimento de insegurança diante da postura do secretário.
Contexto científico e opiniões globais
Estudos recentes, como o do National Toxicology Program, indicam que níveis elevados de fluoride podem afetar negativamente a cognição infantil, mas a recomendação oficial da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do CDC é que a concentração adequada de fluorido na água seja de 0,7 mg/L — nível considerado seguro e suficiente para prevenir cáries.
Na Europa, diversos países optam por não fluoridar sua água, adotando fontes naturais de fluoride ou fluoridando salgadinhas, manteiga ou água engarrafada, devido a diferentes avaliações de risco-benefício. Ainda assim, a maioria das evidências científicas sustenta que a fluoridação em níveis apropriados representa uma medida eficaz e segura para a saúde pública.
Perspectivas e impacto na saúde pública
Especialistas alertam que a decisão de Kennedy pode agravar desigualdades socioeconômicas, uma vez que populações mais vulneráveis tendem a sofrer mais com o aumento de problemas dentários. A medida também gera controvérsia acerca da influência de interesses econômicos na formulação de políticas públicas que moldam a saúde coletiva.
O debate está longe de ser encerrado. Ainda não há uma decisão final, mas a discussão sobre os benefícios e riscos da fluoretação na água permanece como tema central na política de saúde dos Estados Unidos, evidenciando o desafio de balancear evidências científicas e interesses políticos.