Após 14 anos fechado, o Centro de Convivência Cultural (CCC) de Campinas está prestes a reabrir suas portas, mas não sem controvérsias. A decisão da Prefeitura de cercar o espaço histórico, com um gradil de aço de 2 metros de altura, gerou protestos por parte da comunidade e da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (Asbea-SP), que considera a medida um “retrocesso urbanístico”.
Novas medidas de segurança para a proteção do patrimônio
A prefeitura argumenta que o cercamento é uma medida necessária para preservar o patrimônio após um investimento de R$ 64 milhões na requalificação do espaço. A proposta, aprovada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc), contempla a instalação de gradis transparentes a cinco metros da edificação principal, com 19 portões ao longo do perímetro. A administração municipal enfatiza que a Praça Imprensa Fluminense, onde o CCC está localizado, permanecerá aberta e que a tradicional Feira Hippie não sofrerá alterações em seu funcionamento.
Segundo a Secretaria de Cultura e Turismo, “todo grande espaço público precisa de proteção adequada para garantir sua preservação e pleno funcionamento”. Essa justificativa, no entanto, não convenceu a Asbea-SP, que vê o cercamento como uma forma de isolamento que fere a essência comunitária do CCC.
Críticas e diferenças de opiniões
Em nota, a Asbea-SP definiu o cercamento como “um grave retrocesso do ponto de vista urbanístico” e um “atentado ao direito à cidade”. A associação argumenta que o projeto original, concebido pelo arquiteto Fábio Penteado, visava a criação de um espaço acessível e democrático. O cercamento, argumentam, contradiz essa vocação e compromete a função do CCC como um equipamento público integrador.
Além disso, a Asbea aponta diversos impactos negativos que o cercamento pode gerar, como a redução da segurança pública a longo prazo e a desvalorização do espaço como local de convivência coletiva. “Propostas baseadas no controle e na exclusão afastam a população e eximem o poder público de sua responsabilidade com a gestão e ativação do espaço”, afirma a associação.
Medidas de segurança ou controle? O dilema do CCC
A administração de Campinas responde a essas críticas afirmando que a proposta de cercamento é uma medida técnica de preservação, aprovada por unanimidade. Além disso, recorda que o CCC está fechado desde 2012 e que atos de vandalismo têm sido frequentes na área. “O cercamento é uma das etapas finais para garantir a segurança da estrutura e permitir que o complexo volte a ser plenamente utilizado”, garante a prefeitura.
Neste contexto, a Asbea-SP reforça que a segurança e a qualidade dos espaços públicos devem ser asseguradas por meio de políticas que incentivem o uso ativo do espaço, e não pela segregação. Medidas como programação cultural contínua e vigilância adequada deveriam ser priorizadas, segundo a associação.
Reforma e renovação: novo capítulo para o CCC
Enquanto o cerco gerou debate, a reforma do Centro de Convivência Cultural está na fase final. O projeto, que teve um custo total de R$ 60 milhões, inclui melhorias significativas, como automação de sistemas de som e iluminação, além de infraestrutura moderna que promete transformar o CCC em um teatro de ponta. O CCC foi originalmente inaugurado em 1976 e tem sua estrutura destinada a promover a cultura local.
A previsão é que a entrega dessa reforma, que inclui a segunda fase, ocorra em julho de 2024, após sucessivos atrasos relacionados a problemas com licitações e materiais importados. Com a revitalização, o CCC espera se tornar um destino cultural vital, atraindo produções teatrais e eventos artísticos de alta qualidade, enriquecendo a cena cultural da cidade.
Apesar das críticas ao cercamento, a prefeitura insiste em que o CCC voltará a ser um centro vibrante de cultura e convivência na cidade. Com a conclusão das obras e a reabertura aos poucos, a esperança é de que a comunidade receba o espaço com entusiasmo, mas o diálogo sobre o acesso e a segurança deverá continuar nas próximas etapas dessa reabertura.