Na última sexta-feira (4), durante a reunião anual do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um apelo às instituições financeiras globais para que encontrem novas abordagens para financiar o desenvolvimento sustentável, especialmente em países mais pobres. Em suas declarações, Lula ressaltou que os empréstimos devem servir como uma oportunidade para que as pessoas consigam sair da miséria, enfatizando que o auxílio não deve ser entendido como doação, mas como um suporte essencial para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.
A importância do NDB para o Brasil e o mundo
O Novo Banco de Desenvolvimento, também conhecido como banco do Brics, foi criado em 2014 durante um encontro realizado no Brasil para servir como uma alternativa às instituições financeiras tradicionais e atender à necessidade de financiamento de longo prazo que é comum em projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável. Desde 2016, seu escritório central se localiza em Xangai, na China, e é atualmente presidido pela ex-presidenta do Brasil, Dilma Rousseff.
Lula tornou evidente durante sua fala que o NDB tem um compromisso de destinar 40% de seus financiamentos a projetos voltados para o desenvolvimento sustentável. Desde a sua criação, o banco aprovou mais de 120 projetos de investimentos, acumulando um valor total superior a US$ 40 bilhões, que abrange áreas como energia limpa, eficiência energética, transporte, proteção ambiental, abastecimento de água e saneamento. Além disso, o NDB também está investindo na integração de novas tecnologias em diversos setores, incluindo saúde e educação.
Financiamento sem condicionalidades
Durante sua exposição, Lula criticou o modelo de austeridade que tem sido imposto às nações por instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Segundo ele, essa abordagem tem contribuído para o empobrecimento de países, destacando que as exigências de austeridade geralmente resultam em um aumento da desigualdade social, onde os mais necessitados acabam sofrendo ainda mais.
“A chamada austeridade exigida pelas instituições financeiras levou os países a ficar mais pobres, porque toda vez que se fala em austeridade o pobre fica mais pobre e o rico fica mais rico”, argumentou Lula, ressaltando a urgência de uma reforma nas instituições financeiras globais.
O presidente também trouxe à tona a questão da dívida do continente africano, que totaliza cerca de US$ 900 bilhões. Ele destacou que os pagamentos de juros superam consideravelmente os recursos disponíveis para investimentos, deixando os países em via de desenvolvimento em um ciclo interminável de pobreza.
Desafios enfrentados por países como o Haiti
Lula utilizou o Haiti como um exemplo emblemático da necessidade urgente de uma nova abordagem para o financiamento de países em desenvolvimento. Ele explicou que o Haiti, que mantém um legado de dívidas com a França por sua independência, ainda enfrenta enormes desafios, a ponto de não conseguir eleger um presidente por conta da insegurança interna causada por gangues. “Descobri esses dias que o Haiti pagou pela sua independência. Se considerarmos o dinheiro de hoje [com correção], seria necessário devolver R$ 28 bilhões para o Haiti”, afirmou, enfatizando a injustiça social e econômica enfrentada por nações vulneráveis.
O futuro do NDB e o uso de moedas locais
Na mesma linha, Lula expressou otimismo quanto ao futuro do NDB, destacando que 31% dos projetos financiados atualmente estão sendo realizados nas moedas dos países membros. Ele defendeu a ampliação do uso de moedas locais em transações comerciais, o que poderia ajudar a mitigar o impacto das flutuações cambiais e fortalecer a solidariedade entre as nações emergentes.
“Em um cenário global cada vez mais instável, nosso banco é mais do que uma grande instituição financeira para países emergentes, ele é a prova de que uma arquitetura financeira reformada e um novo modelo de desenvolvimento mais justo são possíveis”, completou Lula.
O pedido de Lula por um novo modelo de financiamento sem condicionalidades deve ressoar não apenas no Brasil, mas também entre os líderes globais que lutam para encontrar soluções viáveis para os desafios enfrentados por países em desenvolvimento em um mundo que pode se tornar cada vez mais polarizado.