O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participou de seminário no encontro anual do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), onde reforçou a necessidade de discutir a tributação internacional enquanto países do Sul Global enfrentam restrições fiscais após crises financeiras. Segundo Haddad, há uma urgente revisão das alíquotas de impostos sobre grandes fortunas e uma reflexão sobre mecanismos de financiamento globais, em um cenário de crescente concentração de renda mundial.
Brasil e a discussão sobre tributação internacional
Durante sua fala, Haddad destacou que os países do Sul Global devem avançar nas discussões sobre tributação internacional, principalmente depois da crise de 2008 e da pandemia, que desorganizaram as finanças globais. Ele ponderou que, mesmo com uma eventual redução das taxas de juros, o quadro fiscal de países devedores em moeda forte — como os de África, Ásia e América do Sul — continua preocupante.
Desigualdade e aumento da riqueza dos super-ricos
Haddad chamou atenção para a crescente concentração de riqueza. “Houve uma redução muito grande das alíquotas de impostos cobrados dos super-ricos em todo o mundo, e isso precisa ser repensado”, afirmou, destacando que hoje, em um planeta com 8 bilhões de habitantes, cerca de 3 mil famílias acumulam aproximadamente US$ 15 trilhões. “Se não ousarmos e avançarmos além dos mecanismos tradicionais de financiamento, teremos dificuldades para enfrentar os desafios humanos globais”, alertou.
Impacto na economia mundial e necessidade de novas ações
Para o ministro, os problemas fiscais não se limitam às questões internas de cada país. Ele reforçou que é fundamental ir além do que propõe a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para a tributação multinacional, sobretudo na reversão da redução da tributação sobre grandes fortunas ocorrida desde os anos 1970 ou 1980, dependendo do país.
Além disso, Haddad ressaltou que a desigualdade se reflete no impacto de eventos extremos, como enchentes no Rio Grande do Sul, e que nem todas as nações possuem recursos suficientes para auxiliar regiões afetadas. Segundo ele, o alinhamento entre bancos multilaterais e novos mecanismos de financiamento pós-Bretton Woods será insuficiente para resolver tais questões, sendo necessária uma organização global das finanças que transcenda os limites nacionais.
Por que a reforma nas finanças globais é imprescindível
Nelson Barbosa, ex-ministro da Economia e atual diretor de Planejamento do BNDES, também presente no seminário, enfatizou que há três pontos urgentes: transição energética, digital e demográfica. Para Haddad, uma organização internacional mais eficiente na gestão das finanças é essencial para enfrentar a crescente desigualdade e promover o desenvolvimento sustentável.
“É preciso superar a organização das finanças nacionais, que foi estabelecida em Bretton Woods, e criar uma administração internacional que responda aos problemas globais, afinal, as dificuldades não são mais apenas nacionais”, concluiu Haddad, reforçando que a desigualdade deve estar no centro das ações internacionais para garantir um futuro mais equitativo.
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