Com a aproximação do 20º aniversário dos atentados de 7 de julho em Londres, especialistas alertam para uma nova forma de extremismo que pode ser tão perigosa quanto o jihadismo: o extremismo de direita. Ross Downing, um dos principais acadêmicos no estudo de ideologias extremistas, aponta que radicais de extrema direita estão abraçando mitologias antigas e se preparando para lutar e morrer em nome delas. Esse fenômeno tem gerado preocupações sobre a crescente radicalização religiosa na direita europeia.
Uma nova perspectiva sobre ideologias extremistas
De acordo com Downing, há uma comparação significativa entre os extremistas de direita e os jihadistas islâmicos. Ele argumenta que a crença na vida após a morte entre esses radicais é semelhante à motivação que move os terroristas islâmicos. “Os extremistas de direita invejam o medo que os terroristas islâmicos inspiram”, diz ele, ao mesmo tempo que expressa uma profunda desconfiança em relação à presença muçulmana na civilização europeia.
Downing lidera uma equipe de pesquisa que investiga o extremismo pagão, trabalhando com autoridades de defesa e segurança para educar o público sobre a ascensão da radicalização de direita religiosa. Seu trabalho destaca que a mitologia nórdica está sendo cada vez mais utilizada para inspirar ações violentas por parte de extremistas de direita, refletindo um fenômeno alarmante em crescimento.
A influência da mitologia nórdica
Em um estudo recente, a equipe de Downing descobriu que a internet está repleta de símbolos nórdicos e referências ao Ragnarok, a narrativa mítica de eventos apocalípticos. Extremistas de direita estão utilizando esses elementos em memórias e celebrações de guerra e violência. Um exemplo notável desse fenômeno é Anders Breivik, o terrorista neo-nazista responsável pela morte de 77 pessoas na Noruega em 2011, cuja motivação foi influenciada pela mitologia nórdica.
A crescente aceitação de uma mentalidade de “guerreiro” entre jovens homens britânicos está legitimando essa ideologia, segundo Downing. “Esses não são mais os mesmos jovens politicamente revoltados de antigamente. Agora, muitos deles são muito jovens e ficam facilmente empolgados ao serem chamados de guerreiros sagrados”, alerta ele.
Mutações espirituais do extremismo de direita
A preocupação com a transformação do extremismo de direita em uma espécie de cruzada quasi-religiosa está em ascensão entre acadêmicos. Eles observam que a retórica que antes se concentrava em nacionalismo violento agora se entrelaça com um fervor espiritual. Esse novo viés não apenas atrai indivíduos à ideologia, mas também os radicaliza, especialmente em ambientes como prisões, onde a busca por um sentido de pertencimento pode levar a resultados desastrosos.
No âmbito online, a presença de grupos de extrema direita tem crescido de forma alarmante, com um foco renovado em símbolos nórdicos e memes glorificando a guerra. “Isso não é apenas uma mudança estética; é teológica”, explica Downing, referindo-se a uma cultura que celebra a morte entre os jovens radicais.
Preparação para a violência como uma nova norma
Além da glorificação da violência, Downing observa que influenciadores extremistas estão incentivando jovens homens a se prepararem fisicamente, promovendo treinos em academias e artes marciais. “Estamos vendo um aumento na ideia de que precisamos nos preparar para a violência. Para esses indivíduos, os deuses ancestrais pagãos são uma parte central nessa narrativa”, diz ele.
O cenário é semelhante ao que ocorre na Rússia, onde uma mistura de treinamentos de artes marciais e próprio paganismo estão se tornando populares. “Não é apenas discurso; eles realizam rituais em grandes estátuas pagãs, e a Igreja Ortodoxa Russa se sente ameaçada por isso,” destaca Dr. Victoria Hudson, uma especialista em estudos de defesa.
Com a crescente convergência de mitologias antigas e uma ideologia extremista moderna, a necessidade de atenção e ação em relação à radicalização de direita se torna cada vez mais urgente. Os crescentes laços entre o extremismo violento e as tradições religiosas estão moldando um novo e perigoso cenário social, um que pode espelhar os desafios que as sociedades enfrentam no combate ao jihadismo e outras formas de extremismo.
