A transição para veículos elétricos na União Europeia, com metas de neutralidade de carbono até 2050, pode impulsionar o desmatamento em várias regiões do mundo. Segundo um relatório elaborado por entidades europeias e acadêmicas, a mineração de minerais estratégicos, como níquel, cobalto e terras raras, pode destruir até 118 mil hectares de floresta globalmente até 2050, agravando a crise climática.
Impactos ambientais e sociais do boom mineral
O estudo, encomendado pela Fern e Rainforest Foundation Norway e produzido por universidades de Viena e estudos ecológicos, revela que o aumento na produção de minérios para baterias pode contribuir para o desmatamento de zonas de floresta tropical, incluindo a Amazônia. Os dados indicam que o Brasil responderia por 11,7% desse desmatamento, equivalente a aproximadamente 13.900 hectares, embora a estimativa seja conservadora, já que considerou apenas o desmatamento direto causado pelas minas.
“Atividades de mineração desmatam áreas extensas, aumentando os níveis de CO2 na atmosfera e contribuindo para mudanças climáticas mais intensas”, afirma o relatório. Além do desmatamento, há preocupações com a perda de biodiversidade, contaminação de fontes de água e violações de direitos humanos, especialmente em comunidades tradicionais e indígenas.
Minerais estratégicos e o impacto na biodiversidade
O estudo destaca que a demanda por minerais de transição, essenciais para veículos elétricos e energias renováveis, continuará a crescer, levando a uma exploração cada vez maior de recursos como cobre, nióbio, lítio, entre outros. O Brasil, detentor de reservas estratégicas, figura no topo do ranking global de desmatamento para mineração, ao lado da Indonésia, com grande impacto sobre a floresta amazônica e ambientalmente vulnerável.
Tipo de baterias e impacto ambiental
A escolha da tecnologia de bateria influencia o nível de impacto ambiental. A bateria NMC 811, comum na Europa, demanda altas quantidades de níquel e cobalto, agravando o desmatamento. Em contraste, baterias do tipo LFP, que não utilizam esses minerais, oferecem menores riscos ambientais.
Perspectivas e desafios na exploração de minerais no Brasil
O Brasil possui 12,3% das reservas mundiais de níquel, 26,4% de grafite, 19% de terras raras e 4,9% de lítio, além de outras reservas de minerais críticos. Empresários veem no país uma oportunidade de liderança mundial e de fortalecimento econômico, especialmente diante da guerra comercial entre EUA e China, que busca assegurar o domínio sobre cadeias de suprimentos de minerais estratégicos.
No entanto, a expansão da mineração enfrenta resistências ambientais e sociais, com denúncias de impactos em territórios indígenas, comunidades locais e áreas protegidas na Amazônia. Até maio de 2024, mais de 5 mil pedidos de exploração mineral foram registrados na região, alguns a poucos quilômetros de terras indígenas, levantando preocupações sobre violações constitucionais e destruição de ecossistemas.
Apoio governamental e controvérsias
O governo Lula tem apoiado fortemente o setor mineral, com investimentos de bilhões de reais em projetos de minerais críticos, além de parcerias internacionais e incentivos fiscais. Empresas como Vale e Sigma contam com respaldo oficial para ampliar suas operações, mesmo diante de histórico de violações ambientais e sociais, incluindo tragédias de barragens e contaminações ambientais.
Especialistas alertam que, sem diretrizes sociais e ambientais claras, a exploração de minerais pode aprofundar desigualdades e prejudicar comunidades locais, sem de fato contribuir para soluções globais contra a crise climática, reforçando que a sustentabilidade deve incluir a proteção dos direitos humanos.
Caminhos a seguir
Autoridades brasileiras prometem lançar um Plano Nacional de Transição Energética até 2025, com diretrizes para mineração responsável, mas ainda há dúvidas sobre a efetividade dessas políticas. O momento exige equilíbrio entre desenvolvimento econômico, proteção ambiental e respeito aos direitos sociais, para que a aposta nos minerais de transição seja realmente sustentável e justa.