As cooperativas, tradicionalmente presentes nos setores de agropecuária, transporte e crédito, estão se expandindo também para o setor cultural no Brasil. Com apenas 50 cooperativas atuando especificamente com artistas e produtores, o modelo coletivo se revela uma alternativa para democratizar o acesso à arte e fortalecer a cadeia cultural em diferentes regiões do país.
O crescimento das cooperativas culturais e seu impacto
Segundo Priscilla Coelho, analista de Relações Institucionais e Governamentais da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), há cerca de quatro mil profissionais envolvidos em cooperativas culturais no Brasil. Entre eles, músicos, bailarinos, atores, artesãos, profissionais do audiovisual e dos bastidores.
“São trabalhadores que encontram no cooperativismo uma melhor oportunidade de acessar o mercado com menos custo e mais protagonismo”, alerta Coelho. A estrutura também facilita a captação de recursos e oferece suporte jurídico, contábil e administrativo aos artistas.
Exemplos e trajetórias de cooperativas culturais
Cooperativa Paulista de Teatro
Criada em 1979, a Cooperativa Paulista de Teatro (CPT) é uma das pioneiras no país, com 45 anos de atuação e cerca de dois mil artistas e técnicos associados. Márcio Boaro, vice-presidente da cooperativa, destaca que ela funciona como um “coletivo dos coletivos”, apoiando burocraticamente produção artística e ações de fomento.
Iniciativas de educação e saúde
Além do teatro, há cooperativas voltadas para a educação, como as 213 cooperativas educacionais que buscam oferecer ensino de qualidade, e para a saúde, com cooperativas que levam assistência médica a todo o país. Segundo a presidente Wani Pereira, a cooperativa de saúde atende quase três mil associados, oferecendo descontos e um amplo acervo de livros com preços abaixo do mercado.
Inovação e tecnologia na cooperativa
Algumas cooperativas também têm investido em novas tecnologias. A Turiarte, por exemplo, é uma cooperativa de turismo comunitário e artesanato em Santarém (PA). Com 180 cooperados, incluindo 114 mulheres, ela busca valorizar o artesanato local e garantir benefícios às comunidades tradicionais.
De acordo com a presidente Natalia Dias, a cooperativa surgiu como uma resposta às práticas exploratórias de agências de turismo e do mercado de artesanato, promovendo uma venda mais justa e valorizando a identidade regional.
Desafios e perspectivas para o setor cooperativo cultural
Apesar dos avanços, o setor enfrenta dificuldades, como a pouca continuidade do apoio estatal e a burocracia para a formalização de novas cooperativas. Luís Miguel dos Santos, coordenador de um grupo de estudos na Universidade Estadual de Londrina (UEL), destaca que a exigência de pelo menos 20 pessoas para criar uma cooperativa dificulta sua constituição.
Priscilla Coelho reforça a importância de desenvolver uma estrutura formal que permita aos artistas independentes driblar dificuldades financeiras, administrativas e jurídicas, reforçando o potencial do cooperativismo no fortalecimento do setor cultural brasileiro.
Iniciativas inovadoras e o papel das cooperativas na cultura
O uso de tecnologia é uma tendência que vêm ganhando espaço, com cooperativas adotando inteligência artificial para mapear áreas de plantio, reduzir acidentes, combater fraudes e analisar prontuários médicos, conforme aponta uma reportagem do Globo.
Exemplos de sucesso também incluem a UniJazz, no Rio de Janeiro, que há oito anos reúne 40 músicos em diferentes formações. O projeto “Transformando Sonhos” ensina música a crianças e jovens vulneráveis na Baixada Fluminense e na Zona Norte, mostrando o potencial social das cooperativas.
Com poucos anos de trajetória, as cooperativas culturais demonstram que o modelo de gestão compartilhada é uma alternativa viável para ampliar o acesso à arte, fortalecer profissionais do setor e valorizar as comunidades locais.
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