No último dia 4, os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, da Escola de Samba Unidos de Vila Isabel, conquistaram o Prêmio Pipa 2025. Esta é a primeira vez que artistas ligados ao carnaval recebem um dos mais prestigiados reconhecimentos da arte contemporânea brasileira. A vitória é uma demonstração da relevância e do potencial artístico do carnaval, que vai além das festividades e se insere no debate cultural do país.
Reconhecimento histórico na arte contemporânea
Gabriel Haddad e Leonardo Bora foram notificados sobre a conquista na sexta-feira (4) e, ao receberem a notícia, expressaram sua alegria e a importância dos desfiles de carnaval como uma forma de manifestação artística essencial para a cultura brasileira. “Os desfiles sempre foram contemporâneos, disputando a cidade, pautando temas do país, promovendo debates e misturando linguagens”, destacou Haddad.
Leonardo Bora também fez questão de celebrar este momento marcante, relembrando a trajetória de outros carnavalescos que, assim como eles, deixaram sua marca na arte brasileira. Artistas como Joãosinho Trinta, Rosa Magalhães e Leandro Vieira têm suas obras expostas em museus e bienais, e agora Haddad e Bora se juntam a esse seleto grupo. “O Pipa é mais um passo na nossa caminhada, não um ponto final. Nosso trabalho busca conectar artistas e provocar debates. O carnaval tem uma potência infinita”, afirmou Bora.
A resistência à arte do carnaval
Apesar do reconhecimento, a dupla reconhece que ainda existe uma resistência significativa em ver o carnaval como uma forma artística legítima. Segundo eles, ainda há quem questione a qualidade artística do trabalho desenvolvido por carnavalescos. Haddad comentou sobre essa percepção: “Muita gente ainda pergunta se somos artistas, como se isso fosse algo separado. Isso mostra um olhar excludente, preso a noções de alta e baixa cultura.” Essa resistência evidencia a necessidade de um maior reconhecimento e valorização dos trabalhos desse segmento.
O que é o Prêmio Pipa?
O Prêmio Pipa, criado em 2010, tem como objetivo valorizar e incentivar artistas contemporâneos brasileiros. A seleção dos vencedores é realizada por um júri especializado, que escolhe quatro artistas ou coletivos entre os nominados. A importância do prêmio no cenário da arte contemporânea é inegável, já que ele promove a visibilidade de artistas que muitas vezes estão à margem dos grandes círculos de reconhecimento.
O trabalho dos premiados
conhecem por integrar memórias das escolas de samba, utilizando materiais alternativos, técnicas artesanais, iluminação cênica, além de promover colaborações com outros artistas. Essa abordagem inovadora revigora a forma como o carnaval é percebido, valorizando suas raízes e ao mesmo tempo ampliando suas dimensões artísticas.
Novos projetos e homenagens
Com o prêmio, Gabriel Haddad e Leonardo Bora terão a oportunidade de participar de uma exposição coletiva, onde poderão apresentar suas criações e reforçar sua contribuição para a arte contemporânea. Além disso, os artistas já anunciaram que o próximo desfile da Unidos de Vila Isabel, previsto para 2026, será uma homenagem ao multiartista Heitor dos Prazeres, trazendo o enredo “Macumbembê, Samborembá: Sonhei que um Sambista Sonhou a África”.
Essa homenagem reforça a importância da tradição e da diversidade cultural brasileira dentro do carnaval, mostrando que a arte pode e deve ser uma plataforma para discussões e reflexões sociais. Ao reconhecerem a arte do carnaval, Haddad e Bora abrem um espaço para que muitos outros artistas sejam vistos e valorizados.
O reconhecimento de Gabriel Haddad e Leonardo Bora pelo Prêmio Pipa é um marco que não apenas celebra suas realizações, mas também ressalta a importância do carnaval e suas manifestações artísticas no cenário cultural brasileiro. Esse prêmio pode significar uma nova era de valorização e reconhecimento do que o carnaval representa como expressão criativa e cultural no Brasil.