Nos últimos dias, a arena política brasileira viveu uma verdadeira batalha digital entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e seus apoiadores, com reações de partidos da base e da oposição. Essa disputa, desencadeada pelo debate em torno do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), destaca uma nova tendência no uso de inteligência artificial (IA) na política, revelando tanto as oportunidades quanto os riscos envolvidos.
A estratégia digital do PT
Segundo um relatório da consultoria Bites, a mobilização digital do PT teve início em 17 de junho, logo após a reação do Congresso em relação à proposta de aumento do IOF. Em um ato estratégico, o perfil oficial do PT lançou um vídeo gerado por IA com a mensagem “Taxação BBB: bilionários, bancos e bets”, buscando ressaltar que o governo Lula está comprometido em aliviar a carga tributária dos mais pobres enquanto aumenta a taxação dos mais ricos.
Esta ação não passou despercebida e imediatamente provocou respostas de figuras da oposição, como o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que também utilizaram ferramentas de IA para contra-atacar, demonstrando a possibilidade de uma guerrilha digital efetiva no debate político atual.
O papel da inteligência artificial na polarização política
Além dos vídeos elaborados com inteligência artificial, foram produzidos conteúdos satíricos que visavam criticar diretamente o presidente da Câmara, Hugo Motta, utilizando um tom de humor para engajar o público nas redes sociais. Com essa tática, o PT buscou disparar um discurso que opõe os pobres aos ricos, intensificando a sensação de luta de classes.
A popularidade dos vídeos criados com IA foi impressionante, alcançando um pico de engajamento de 280 mil menções e 1,7 milhão de interações em seu dia mais movimentado. Essa resposta rápida e calculada do governo contrasta com sua reação na crise do Pix em janeiro, quando o presidente Lula se viu em uma posição defensiva.
Riscos associados à desinformação
Entretanto, o uso de inteligência artificial na divulgação de conteúdo político não ocorre sem preocupações. Especialistas alertam para o potencial de desinformação. As imagens geradas por IA podem ser confundidas com notícias verdadeiras, gerando confusão e manipulação de informações. Nesse contexto, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) está examinando a questão e já começou a trabalhar na regulamentação do uso de IA nas campanhas eleitorais.
Reunião de influenciadores e novas diretrizes
Recentemente, o PT organizou um encontro virtual com cerca de 300 influenciadores e pessoas-chave do partido. Durante essa reunião, foi discutido o objetivo de produzir conteúdos próprios, sem esperar pelos materiais do governo, uma decisão que levanta questões sobre a veracidade das informações que podem ser disseminadas.
O deputado Jilmar Tatto, responsável pela comunicação do PT, afirmou que a orientação não é atacar o Congresso, mas sim confrontar a elite econômica do país, enfatizando a necessidade de justiça fiscal. “Os movimentos sociais estão organizados e prontos para a luta”, declarou, evidenciando a intenção de uma mobilização mais ampla e coordenada.
Movimentos sociais e protestos
A campanha “pobres contra ricos” transcendeu as redes sociais, culminando em ações concretas de mobilização. Recentemente, a Frente Povo Sem Medo e o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) realizaram uma invasão pacífica na sede do Itaú BBA, em São Paulo, pedindo a taxação dos super-ricos e isenção de impostos para quem ganha até R$ 5 mil mensais.
Os manifestantes deixaram o local após algumas horas de protesto, mas a ação simboliza a crescente insatisfação com as desigualdades econômicas no Brasil e a utilização de inteligência artificial como uma ferramenta de engajamento e mobilização política eficaz.
À medida que a tecnologia avança e se torna mais acessível, sua presença na política promete alterar a dinâmica das campanhas eleitorais e debates públicos. No entanto, os desafios relacionados à difusão de informações verídicas permanecem essenciais a serem abordados, à medida que a inteligência artificial se torna parte integrante da estratégia política no Brasil.