As recentes turbulências enfrentadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelam um panorama desafiador no relacionamento com o Congresso Nacional. Uma pesquisa recém-divulgada pela Genial/Quaest, realizada com uma amostra representativa da Câmara dos Deputados, confirma que a percepção de uma relação negativa entre o Legislativo e o Executivo ganhou força, refletindo as dificuldades que Lula enfrenta ao tentar aprovar sua agenda no terceiro mandato.
Resultados da pesquisa Genial/Quaest
Segundo os dados coletados, entre maio de 2024 e junho de 2025, a avaliação negativa da relação entre deputados e o governo subiu de 43% para 51%. Apenas 18% dos parlamentares consideram essa relação como positiva, o que representa uma queda desde os 22% registrados anteriormente. Além disso, 30% consideram a interação como regular, um número que também apresentou queda.
Outro dado alarmante é que 46% dos deputados federais avaliam o governo Lula de forma negativa, um aumento em relação aos 42% do ano passado. Somente 27% veem a administração como positiva. O descontentamento é notável entre os parlamentares que não pertencem nem à base governista nem à oposição, com a proporção daqueles que avaliam negativamente a gestão de Lula subindo de 31% para 44%.
Crise de governabilidade e prioridades distintas
A pesquisa, que entrevistou 203 deputados (40% do total da Câmara), também capturou o impacto da recente crise relacionada ao decreto presidencial que aumentava as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A abordagem do governo em relação a outras propostas, como a elevação da faixa de isenção do Imposto de Renda, possui amplo apoio – 88% – entre os deputados. No entanto, a tentativa de acabar com a escala de trabalho 6×1 encontra resistência, com 70% dos parlamentares se opõem a essa mudança.
As pautas que geram divisão incluem a elevação da taxação sobre os super-ricos e a proposta de emenda constitucional (PEC) da Segurança Pública. A taxação é rejeitada por 46% dos parlamentares, enquanto a PEC gera empates nas votações, revelando a dificuldade de Lula em conduzir sua agenda no Congresso.
Perfil e prioridades dos deputados
O perfil dos recém-eleitos deputados também contribui para esse distanciamento. Com uma maioria identificada como direita (45%), em contraposição a apenas 21% que se consideram de esquerda, a composição da Câmara reflete um ambiente político menos favorável para as propostas de Lula. Além disso, 32% dos deputados se alinham com o governo e 32% se opõem a ele, enquanto 27% se declaram independentes.
O cientista político Felipe Nunes, da Quaest, destaca que o aumento no percentual de deputados que acham que Lula tem baixas chances de aprovar sua agenda no Congresso, que subiu de 47% para 57%, ilustra o desgaste das relações entre Executivo e Legislativo. Em 2023, 56% dos parlamentares acreditavam que o presidente conseguiria aprovar suas pautas, evidenciando um desvio significativo nas expectativas em relação ao seu governo.
Desarticulação política e desafios futuros
Os dados da pesquisa sugerem que a desarticulação política é frequentemente citada como a razão da dificuldade para concretizar votação de temas importantes. Cerca de 45% dos deputados responsabilizam a falta de articulação efetiva da gestão Lula, enquanto 33% mencionam o impasse sobre o projeto de anistia aos réus dos eventos de 8 de janeiro, um tema espinhoso que permanece estagnado no Legislativo.
A cientista política Beatriz Rey critica a falta de mudanças nas articulações políticas do governo; segundo ela, é crucial que o Executivo se aproxime mais das várias legendas representadas no Congresso para conseguir apoio. Nesse sentido, a reatividade da administração atual contrasta com a necessidade de ser mais proativa, buscando os parlamentares como coparticipantes de sua agenda.
Bruno Schaefer, professor de Ciência Política da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, sugere que uma maneira de reverter a atual situação seria melhorar a popularidade do governo. A reprovação de Lula atingiu 57% na pesquisa Genial/Quaest, sendo este o maior percentual registrado até agora, o que pode dificultar ainda mais a cooperação dos deputados com iniciativas governamentais.
Para o futuro, é essencial que o governo consigaa alinhar suas prioridades com as demandas da Câmara e estabilizar as relações com o Congresso, especialmente se Lula deseja ver suas propostas serem aprovadas e sua administração ser considerada exitosa.