Brasil, 3 de julho de 2025
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Prada e o furto cultural das kolhapuris: por que precisamos falar sobre respeito e crédito

Coleção da Prada usou estilo típico de kolhapuris sem reconhecimento, levantando debate sobre apropriação cultural na moda de luxo

Durante o desfile de Primavera 2026 de Prada em Milão, uma sandália de estilo tradicional indiano, conhecida como kolhapuri, chamou atenção por sua ausência de crédito. A estilista Anaita Shroff Adajania comparou as peças ao estilo das chappals de rua de Maharashtra, destacando a questão da apropriação cultural sem reconhecimento adequado.

A semelhança entre a alta costura e a artesania tradicional indiana

As sandálias exibidas na coleção masculina de Prada lembravam as kolhapuris, calçados artesanais feitos à mão por artesãos de Maharashtra e Karnataka há gerações. Produzidas com couro de búfalo, sem uso de cola ou materiais sintéticos, levam até duas semanas para serem confeccionadas por artesãos locais. Apesar de sua autenticidade e história rica, essas peças apareceram por um preço superior a US$ 1.000, sem nenhuma menção à origem cultural.

A questão do reconhecimento e da apropriação na moda

Nos comentários das redes sociais, internautas apontaram a ausência de reconhecimento à cultura indiana: “Por que estão usando as kolhapuris sem dar crédito?”, questionaram. A falta de identificação adequada e o alto valor para itens de origem artesanal levantam uma discussão sobre como a moda global muitas vezes se apropria de elementos culturais sem dar o devido mérito aos seus criadores.

As kolhapuris, que receberam o selo de Indicação Geográfica (GI) em 2019, representam uma tradição antiga, sustentada por artesãos que preservam técnicas tradicionais de produção. Essa história, no entanto, é muitas vezes invisibilizada quando marcas de luxo as reinventam sem referência clara.

O impacto da apropriação cultural na moda global

Este episódio não é isolado — temos visto peças de vestuário, como dupattas, serem recontextualizadas como “nórdicas”, além de roupas tradicionais indianas serem vendidas com nomes diferentes. Essas práticas reforçam uma narrativa de consumo que desconsidera o valor cultural e social dessas manifestações.

“Se queremos realmente valorizar a diversidade cultural, é fundamental reconhecer a origem das peças que inspiram as criações de grandes marcas,” afirma a especialista em moda ética, Ana Costa. Para ela, a apropriação é uma forma de silêncio impiedoso sobre as origens de comunidades que produzem esses itens há séculos.

Por que a referência importa

Embora Prada não tenha mencionado explicitamente as kolhapuris, quem conhece a cultura indiana reconhece rapidamente o estilo. A ausência de crédito e o uso de nomes genéricos como “toe ring sandals” reforçam a apropriação sem respeito. “Isso não é só sobre moda, é sobre visibilidade e legitimidade para quem mantém viva uma tradição,” comenta o artista indígena Ramesh Patel.

Respeito e valorização das culturas na moda

A discussão vai além: é uma questão de ética, autenticidade e reconhecimento. Quando um item tão culturalmente rico é transformado em uma peça de luxo sem contexto ou respeito, ocorre uma descaracterização que prejudica toda uma comunidade artística e artesanal.

Para que o futuro da moda seja mais justo, é fundamental que marcas e designers entendam que inspiração deve vir com reconhecimento. Assim, objetos culturais como as kolhapuris podem ocupar espaço no cenário global sem perder suas raízes, sua história e seu valor real.

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