A corte de Londres, responsável pelo julgamento da mineradora BHP pelo desastre de Mariana, realiza nesta semana uma audiência preparatória para um novo processo sobre os danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Minas Gerais. Quase 10 anos após a catástrofe que resultou na morte de 19 pessoas e causou um desastre ecológico, o solo e a água da região continuam poluídos. O líder indígena Marcelo Krenak está na capital britânica para acompanhar a audiência e manifestar seu apoio às vítimas.
História de luta e esperança
“Meu povo, minha cultura, sempre estiveram ligados ao rio”, afirma Marcelo Krenak, enquanto exibe um cocar tradicional que chama a atenção no coração da capital britânica. Representante do povo indígena Krenak, Marcelo está em Londres para acompanhar a audiência que aconteceu na quarta-feira (2) e nesta quinta-feira (3), como parte de um amplo processo judicial que busca reparação contra a mineradora australiana BHP, que, à época dos fatos, tinha uma de suas sedes globais no Reino Unido.
Krenak relata que as plantas medicinais que anteriormente só existiam no rio estão contaminadas, e que tanto o solo quanto a água estão impróprios para uso. “Não podemos plantar, não podemos usar a água do rio para os animais ou para as plantas”, conta ele. “Todo o ecossistema ao redor do rio foi destruído.” O líder indígena menciona que advogados dos moradores apresentarão “provas visuais, fotos e vídeos do que foi feito, dos danos que a ruptura da barragem ainda causa hoje”. Estudos também serão apresentados para provar que “o rio está contaminado”, assim como “os peixes”.
Consequências do desastre
As consequências do rompimento da barragem em 2015 ainda reverberam na cidade de Mariana e arredores, que espera obter, por meio do processo britânico, o equivalente a R$ 28 bilhões em indenizações. “Aqui, na Inglaterra, estamos fazendo história, porque uma grande empresa — uma das maiores mineradoras do mundo — está sendo levada à Justiça. Isso pode criar um precedente para garantir que crimes como esse não se repitam em outras partes do planeta”, declarou Krenak.
Participando da audiência, o prefeito de Mariana, Juliano Duarte, expressou sua esperança de que a Justiça britânica reconheça a responsabilidade da BHP. “Nossa esperança é que aqui, em Londres, a prefeitura seja ouvida, porque no Brasil nós não fomos”, disse. Ele enfatizou que a prefeitura está aberta ao diálogo e negociações, mas não aceitará “migalhas” como as oferecidas no Brasil.
O papel da Justiça britânica
As sessões contam com a participação do escritório de advocacia internacional Pogust Goodhead, que representa mais de 620 mil vítimas, 31 municípios, comunidades indígenas e quilombolas, além de autoridades locais. Após um megaprocesso encerrado em março, a decisão da Justiça britânica sobre a responsabilidade da BHP é aguardada para as próximas semanas. A empresa, junto da brasileira Vale, era proprietária da barragem cuja ruptura destruiu as casas de mais de 600 pessoas.
Simultaneamente, a Corte de Londres organiza a segunda fase do processo, que visa determinar os valores de indenização. Essa etapa, tema da audiência desta semana, poderá ter início em outubro de 2026, caso a responsabilidade da BHP seja reconhecida.
A posição da BHP
A BHP declarou à AFP que a recuperação do rio Doce, cuja qualidade da água, segundo a empresa, “retornou aos níveis anteriores à ruptura da barragem”, continua sendo uma prioridade. Reconhecendo tratar-se de uma “tragédia terrível”, a BHP afirma que sempre esteve “comprometida em apoiar a Samarco” — sua joint venture com a Vale — para “fazer o que é certo” pelas comunidades atingidas e pelo meio ambiente.
No entanto, a maioria dos 620 mil participantes da ação em Londres — incluindo 46 prefeituras — alega não estar contemplada pelo acordo de reparação já assinado no Brasil e busca cerca de 36 bilhões de libras (mais de R$ 230 bilhões) adicionais por meio da Justiça britânica.
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