O modelo e artista visual Luan Vinycius, de 23 anos, tornou-se notícia após sofrer ameaças de morte e ataques online devido a uma campanha de fake news que o vinculou a práticas criminosas. Natural de Fortaleza, Luan estava envolvido em um ensaio fotográfico onde aparece com uma cobra, o que gerou uma distorção absurda das informações nas redes sociais.
O impacto da fake news e a reação de Luan
A fake news circulou em grupos de WhatsApp, alegando que Luan adotava filhotes de gatos para alimentar a cobra utilizada em seu ensaio fotográfico. Em uma manifestação emocional sobre a situação, o artista descreveu como essa montagem foi usada para atacar sua imagem, ressaltando que seu trabalho é uma celebração da ancestralidade e espiritualidade, e não um ato de crueldade.
“Fui surpreendido com a disseminação de uma montagem racista, que utilizava uma obra minha — um trabalho audiovisual artístico, que celebra a ancestralidade e a espiritualidade através da figura sagrada da cobra”, afirmou Luan. Ele também destacou que a utilização de sua imagem foi feita de forma descontextualizada, com o objetivo claro de marginalizá-lo por sua identidade étnica e religiosa.
A ação da Polícia Civil
Luan notificou a Polícia Civil sobre as ameaças recebidas através das redes sociais, que atualmente investiga o caso. Em resposta, a corporação declarou estar empenhada em apurar as circunstâncias dessa denúncia de ameaça feita em ambiente virtual, destacando a gravidade da situação.
“Fui chamado de criminoso, demônio e recebi mensagens de intimidação, como ‘vamos arrancar sua cabeça’. Isso não é apenas ataque a mim, mas também uma violência direcionada a todos os que se manifestam como eu”, desabafou o modelo. Luan também teve contato com um dos indivíduos que disseminaram as mentiras, afirmando nunca ter conhecido a pessoa antes.
A luta contra o racismo religioso
Luan não se calou diante da situação e utilizou suas redes sociais para expor a calúnia, tratando-a como uma forma de racismo religioso. Para ele, essa situação é um reflexo de um apagamento sistemático das vozes não brancas, um ataque à riqueza cultural e espiritual das tradições de matriz africana e afro-indígena.
Em um comentário esclarecedor, Ozaias Rodrigues, professor de antropologia, destacou a complexidade do racismo religioso, que vai além das ofensas físicas e se penetra nas esferas simbólicas da sociedade. Ele explica que são violentadas não apenas as religiões de matriz africana, mas também as identidades de quem as pratica.
A interpretação do racismo religioso
O conceito de racismo religioso, como Rodrigues sugere, busca apontar que as violências direcionadas contra as religiões afro e indígenas são intrinsecamente ligadas à cor da pele e à cultura de seus praticantes. Os ataques muitas vezes se baseiam em estereótipos demoníacos atribuídos a essas tradições religiosas, promovendo um ciclo de injustiça e discriminação.
“Essa discriminação se reflete não apenas na ofensa verbal, mas também se expressa em comportamentos aversivos em ambientes de trabalho e estudo, tornando quase impossível uma participação plena desses indivíduos na sociedade”, complementou o professor.
A importância da resistência e da visibilidade
A reação de Luan Vinycius não é apenas um desejo de defesa pessoal, mas uma luta por justiça e visibilidade para todos que enfrentam situações similares. “Sinto indignação, repulsa e a certeza da potência da minha arte. Minha atuação como modelo e diretor criativo não são apenas expressão estética, mas também resistência e afirmação”, concluiu o artista. Ele já carrega o trauma das injustiças sofridas, mas se compromete a continuar lutando por um espaço onde pessoas como ele possam viver e se expressar livremente.
O caso de Luan ilustra uma questão maior que permeia a sociedade: a necessidade urgente de combater o racismo religioso e garantir um espaço respeitoso para todas as expressões culturais e espirituais. Enquanto a investigação prossegue, a esperança é que a visibilidade de tais incidentes ajude a fomentar um diálogo positivo e transformador em torno das questões raciais e religiosas no Brasil.
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