Na quarta-feira, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, voltou ao Congresso um mês após um incidente conturbado em uma audiência no Senado. Ela enfrentou questionamentos agressivos durante uma sessão da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, onde foi alvo de ataques contundentes de alguns parlamentares. Em resposta, a ministra fez uso de trechos bíblicos, incluindo passagens familiarmente utilizadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, para justificar seu trabalho e sua conduta.
Um ambiente hostil e ataques pessoais
Durante a sessão, a ministra foi criticada especialmente pelo deputado Evair de Melo (PP-ES), que insinuou que ela teria sido “adestrada” por uma ideologia de esquerda e questionou sua experiência no agronegócio. “A senhora tem dificuldades com o agronegócio porque nunca trabalhou, a senhora nunca produziu”, acusou o deputado, enquanto a ministra tentava explicar sua visão e suas ações em prol do meio ambiente.
Marina, notoriamente calma, respondeu que não se importava em ser injustiçada e que confiava em um julgamento divino futuro. “Hoje de manhã eu fiz uma longa oração e pedi a Deus que me desse muita calma e tranquilidade. Estou em paz”, declarou, reforçando sua convicção de que preferia sofrer injustiças a cometer injustiças.
Respostas a ataques e defesa do Ibama
Ao ser interpelada sobre ter criticado o ex-presidente Lula antes de retornar ao governo petista, ela manteve seu foco e equilibrou a situação: “A senhora como ministra é uma vergonha”, disse o deputado Zé Trovão (PL-SC), a que Marina respondeu com firmeza, ressaltando que seu trabalho é fundamentado em evidências e orientações científicas, principalmente em relação ao papel do Ibama na preservação ambiental.
Em uma das intervenções, o deputado Cabo Gilberto (PL-PB) gritou “calma, ministra”, enquanto ela defendia a atuação do Ibama. Marina se posicionou contra a ideia de que uma mulher não pode se expressar firmemente, dizendo que isso é um exemplo de machismo. “Quando um homem ergue a voz, ele está sendo incisivo. Vocês dizem que estão sendo contundentes”, analisou, evidenciando a desigualdade de tratamento de gênero que ainda permeia a política brasileira.
Controvérsias sobre o controle de javalis e defesa do meio ambiente
Além dos ataques pessoais, a ministra também foi questionada sobre sua posição em relação ao controle de javalis em propriedades rurais. Marina enfatizou que medidas devem ser tomadas com a devida orientação científica e não apenas por caçadores em busca de controle populacional. “Em Levíticos, Deus fala assim: quando você achar uma ave no ninho, não tire a ave, isso é para que vocês saibam que vocês seres humanos não passam de animais”, disse, citando a Bíblia. Essa afirmação ressaltou sua visão de que é necessário coexistir com a fauna, respeitando as leis da natureza.
Marina ainda mencionou que, em outro trecho da Bíblia, Deus é comparado a uma galinha para simbolizar o cuidado que Ele tem com seus filhos. Isso se destaca considerando que tanto a ministra quanto muitos dos deputados que a atacaram se identificam como cristãos evangélicos, criando um contraste interessante nas discussões sobre fé e responsabilidade ambiental.
Resultados na redução do desmatamento
Ela finalizou suas declarações defendendo os dados de redução do desmatamento no Brasil, apresentando uma queda de cerca de 32% em relação ao mês anterior, conforme os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, reiterou, utilizando um versículo que foi emblemático durante o período de Bolsonaro, mas que agora ela reclama como parte de sua legítima defesa.
A sessão foi marcada por trocas insistentes de farpas entre parlamentares e a ministra Marina Silva, que abandonou uma sessão anterior na Comissão de Infraestrutura após um embate fervoroso sobre a pavimentação da rodovia BR-319. Nesse contexto, a ministra tem enfrentado desafios significativos em sua atuação, lidando não apenas com críticas provenientes do campo político, mas também com as tensões inerentes ao seu cargo, que lida diretamente com temas sensíveis na atualidade.
As discussões acaloradas e o uso de referências bíblicas por Marina também ilustram como a fé e a política se entrelaçam no discurso de diferentes políticas públicas, evidenciando a necessidade de uma reflexão profunda sobre o papel de cada um na sociedade e suas responsabilidades. Com uma postura firme, Marina segue sua trajetória, evocando tanto a espiritualidade quanto o compromisso com a verdade e a justiça social.