Uma cena alarmante e arriscada circulou nas redes sociais, provocando reflexões sobre a responsabilidade dos criadores de conteúdo e o impacto disso na segurança pública. Um vídeo mostrou um suposto influenciador vendado deitado na linha férrea da Companhia de Trens Metropolitanos (CPTM), na estação Aracaré, em Itaquaquecetuba, enquanto um trem passava por cima dele. Não é a primeira vez que situações assim causam apreensão entre autoridades e especialistas.
Investigação e repercussão do caso
O incidente ocorreu no dia 24 de junho, e a CPTM confirmou que, ao chegarem ao local, os agentes não conseguiram localizar o homem, que havia fugido, impossibilitando sua identificação e detenção. A Delegacia de Itaquaquecetuba já registrou a ocorrência e investiga o caso por perigo de desastre ferroviário e incitação ao crime, conforme previsto no Código Penal.
Vídeos que mostram pessoas se arriscando em ferrovias são uma tendência preocupante na internet. Conforme especialistas, essa situação pode ter consequências graves, especialmente para crianças e adolescentes, que podem se sentir incentivados a replicar tais comportamentos. Juliana Doretto, pesquisadora e professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, chama a atenção para a necessidade de uma mudança cultural para que conteúdos desse tipo percam engajamento nas plataformas digitais.
O papel das plataformas digitais
Doretto sugere que as redes sociais deveriam implementar filtros mais rigorosos para evitar a viralização de vídeos que promovem a violência e a irresponsabilidade. A preocupação é válida; conteúdos extremos tendem a atrair mais visualizações, criando um ciclo vicioso em que o que é perigoso se torna popular.
Dirceu Valle, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Mogi das Cruzes e doutor em direito penal, esclarece que o ato de invadir e gravar em trilhos de trem pode ser considerado crime e está sujeito a penalidades. O artigo 260 do Código Penal prevê penas de 2 a 5 anos de reclusão para perturbação do serviço de estrada de ferro e, dependendo das circunstâncias, isso pode ainda ser considerado crime de perigo para a vida.
Impacto nas redes sociais e na saúde mental
O psiquiatra Rodrigo Martins Leite, doutorando na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), aborda o impacto profundo que as redes sociais têm na saúde mental dos jovens. Segundo ele, o consumo de conteúdo arriscado pode criar um ciclo viciante semelhante ao uso de substâncias. A busca por validação através de ‘likes’ pode levar os jovens a se expor a situações perigosas para garantir sua visibilidade e relevância na esfera digital. Leite argumenta que isso pode estar motivando o comportamento cada vez mais extremo e a necessidade de “ser visto” nas redes sociais.
A atuação das autoridades
A CPTM reafirma seu compromisso com a segurança e informa que realiza patrulhamento contínuo em suas linhas. A companhia opera com um sistema integrado de monitoramento, que inclui 3.500 câmeras nas estações e composições, além da atuação em parceria com as polícias Civil e Militar. A inclusão de 160 bodycams para a segurança de seus agentes é parte dos esforços para prevenir incidentes semelhantes no futuro.
O Ministério da Segurança Pública reitera que a presença de indivíduos nos trilhos não apenas coloca suas vidas em risco, mas também a segurança dos passageiros. O caso mais recente foi tratado com seriedade, e as autoridades estão em alerta para evitar que novas situações como essa se repitam.
Reflexões necessárias
A viralização de conteúdos que colocam vidas em risco deve ser um tema de discussão ampla não só entre os criadores de conteúdo, mas também na sociedade como um todo. Afinal, o equilíbrio entre liberdade de expressão e responsabilidade deve ser constantemente reavaliado para que práticas perigosas não se tornem normais.
Esses incidentes ressaltam a importância da educação sobre segurança nas redes sociais, principalmente em um mundo cada vez mais conectado e influenciado pela internet. O que é divertido ou emocionante pode ter consequências severas, exigindo uma reflexão crítica sobre o que realmente estamos dispostos a compartilhar em nome da fama.