O embaixador do Brasil na Argentina, Julio Bitelli, criticou o discurso adotado pelo presidente Javier Milei para justificar a tarifa de 10% imposta pelos Estados Unidos à Argentina. A declaração foi feita em um telegrama enviado ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva em 3 de abril deste ano. Segundo o diplomata, Milei buscou uma “ginástica intelectual” para criar uma narrativa de que a medida norte-americana seria benéfica para o país vizinho.
Alinhamento com a política de Trump
Na avaliação de Bitelli, o anúncio feito pelo então presidente Donald Trump de tarifas diferenciadas para países sul-americanos foi esperado pela Argentina, que aguardava ser excluída do pacote. No telegrama, o diplomata afirma que o governo argentino tinha a esperança de que a medida não seria aplicada ao país, devido à suposta amizade entre Milei e Trump. Contudo, o comunicado de Washington reforçou a impressão de alinhamento automático do governo argentino aos Estados Unidos, sem benefícios concretos.
Narrativa de Milei e manifestações nas redes sociais
Segundo o telegrama, nachdem o anuncio de Trump, Milei compartilhou em suas redes sociais uma música do Queen — “Friends will be friends” — em uma tentativa de associar a decisão às suas proximidades com o presidente americano. Essa ação foi interpretada pelo diplomata como uma tentativa de reforçar a narrativa de que as tarifas seriam resultado dessa relação especial.
Reações e percepções do governo argentino
O documento indica que o governo de Milei esperava um tratamento diferenciado por parte de Washington, o que não se concretizou. Apesar do esforço de justificativa, o telegrama revela que Buenos Aires recebeu o mesmo tratamento que outros países da região, como Brasil, Chile, Colômbia, Equador e Peru. Um porta-voz do governo argentino, Manuel Adorni, afirmou numa coletiva que as tarifas mostram que Trump utiliza o recurso como ferramenta geopolítica, e não como uma medida protecionista.
Posicionamento do embaixador brasileiro
Bitelli ressaltou que a expectativa de um tratamento especial para a Argentina, devido à relação de Milei com Trump, não se confirmou. “O que a gente viu, pelo menos até agora, é que a Argentina está recebendo um tratamento absolutamente idêntico a outros países da região que não têm o mesmo tipo de relação com os Estados Unidos”, afirmou.
Contexto e trajetória do diplomata
Antes de assumir em Buenos Aires, Julio Bitelli passou por países como Tunísia, Colômbia e Marrocos. Desde maio de 2023, representa o Brasil na Argentina, desempenhando um papel importante na análise das dinâmicas políticas entre os dois países e suas relações internacionais.
Mais detalhes podem ser acessados na reportagem completa publicada pelo GLOBO.