Na manhã desta quinta-feira (3), o dólar abriu em baixa após fechar na véspera a R$ 5,4206, menor patamar desde agosto, refletindo a expectativa pela votação do megapacote de cortes de impostos do presidente Donald Trump na Câmara dos Deputados dos EUA. O Ibovespa, por sua vez, inicia as negociações às 10h, após recuar 0,36% na véspera, aos 139.051 pontos.
Incerto sobre a votação do pacote de Trump e seus efeitos na economia global
O mercado aguarda a votação do projeto conhecido como One Big Beautiful Bill, que prevê redução de tributos, aumento nos gastos públicos e cortes em programas sociais. Caso aprovado, o pacote pode adicionar US$ 3,3 trilhões à dívida pública dos EUA na próxima década, ampliando a preocupação com a situação fiscal do país e afetando o cenário econômico global.
“A expectativa é que a aprovação possa impactar a política monetária e o ritmo de crescimento da economia norte-americana”, avalia Rodrigo Vieira, analista de economia internacional.
Temores com tarifas e desaceleração da economia americana
O mercado também acompanha a proximidade do fim do prazo de suspensão das tarifas impostas pelos EUA, com negociações ainda incertas com parceiros comerciais, incluindo a recente assinatura de um acordo com o Vietnã.
Dados recentes reforçam esse cenário de cautela: o relatório ADP revelou a criação de 33 mil vagas de emprego nos EUA em junho, significativamente abaixo das expectativas de 95 mil novas oportunidades. “Esse dado reforça a possibilidade de o Federal Reserve começar a diminuir as taxas de juros nos próximos meses”, comenta Ana Paula Torres, economista do Banco Central.
Impactos no Brasil: contas públicas e produção industrial
No cenário doméstico, a atenção permanece no projeto que tenta evitar o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Apesar da resistência do Congresso, o governo defende a necessidade de tributar o IOF para equilibrar as contas de 2025, podendo recorrer ao STF caso o aumento seja barrado.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial de maio recuou 0,5% em relação a abril, o segundo mês consecutivo de queda, sinalizando maior fragilidade do setor diante das altas de juros e das incertezas fiscais.
Repercussões internacionais e política monetária
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve mantém postura de cautela, aguardando novas informações sobre o impacto das tarifas e outros fatores inflacionários antes de agir sobre os juros. O presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que a autoridade continuará monitorando a evolução econômica antes de reduzir as taxas, contrariando as pressões de Trump por cortes imediatos.
A instabilidade fiscal e comercial global impacta diretamente o câmbio e os investimentos na bolsa brasileira, que vem demonstrando forte resiliência neste ano, com alta de 15,60% no acumulado de 2023.
Perspectivas e próximos passos
O cenário nas próximas semanas dependerá da tramitação do pacote de Trump e das decisões do Fed, além dos desdobramentos na política fiscal brasileira. A expectativa é de que o dólar permaneça volátil e que o Ibovespa busque estabilidade diante dos inúmeros fatores de incerteza no ambiente internacional e doméstico.