Durante uma sessão na Câmara Municipal de Itapoá, Santa Catarina, a vereadora Jéssica Lemoine (PL), conhecida por seu apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, apresentou um pedido polêmico: a retirada do livro “Capitães da Areia”, de Jorge Amado, dos materiais didáticos das escolas públicas do município. A proposta gerou diversas reações, refletindo o debate acalorado sobre a educação e a literatura no Brasil.
Motivos para a proposta
Em seu discurso, a vereadora argumentou que a obra “promove a marginalização infantil” e “romantiza o estupro e a relação sexual entre adultos e crianças”. Lemoine esclareceu que a classificação indicativa do livro – originalmente para maiores de 18 anos – teria sido alterada para permitir que alunos do 7º e 8º ano do ensino fundamental, com idades entre 12 e 13 anos, tivessem acesso à leitura. Para ela, isso representaria uma tentativa do Governo Federal e da esquerda de infiltrar a literatura brasileira, que é vista como instrumento de doutrinação nas escolas.
Reação da sociedade
A proposta, no entanto, não foi bem recebida por muitos internautas. Comentários nas redes sociais criticaram a atitude da vereadora, que foi classificada como um “desserviço” e, em algumas opiniões, “ignorante”. Uma usuária expressou sua preocupação: “Me causa muita preocupação sua condenação à leitura do livro ‘Capitães da Areia’. Permita-me lembrar que essa obra é um clássico incontestável da literatura brasileira, recomendada há décadas.”
A defesa da leitura
Críticos enfatizaram que a leitura de obras clássicas é essencial na formação de uma visão crítica e empática dos jovens em relação ao mundo. Segundo uma internauta, “Educação não é sobre esconder o mundo, é sobre preparar o jovem para compreendê-lo e transformá-lo. A leitura crítica não estimula violência, nem o crime. Pelo contrário: promove empatia, reflexão e consciência social.”
Outros comentários irônicos questionavam a lógica por trás da proposta, sugerindo que restringir o conhecimento não é o caminho para um futuro melhor na política. A ideia de censura levantou preocupações sobre a importância da liberdade de expressão e do acesso à cultura.
A posição da vereadora
A vereadora Lemoine, que se manifestou nas redes sociais para afirmar que sua iniciativa não seria uma forma de censura, ressaltou que espera que “Capitães da Areia” continue disponível nas bibliotecas municipais, uma vez que o livro é cobrado em vestibulares. No entanto, ela reafirmou sua convicção de que a obra é apropriada apenas para o público adulto e não deve ser lida por crianças em sala de aula.
Jorge Amado e seu legado
É importante contextualizar quem foi Jorge Amado. O autor baiano é considerado um dos mais influentes da literatura brasileira, com obras que abordam o cotidiano e a cultura do povo da Bahia. Além de “Capitães da Areia”, ele escreveu livros icônicos como “Gabriela, Cravo e Canela”. Suas obras foram traduzidas para vários idiomas e muitas delas adaptadas para o cinema e a televisão, consolidando seu legado literário.
A regulamentação sobre livros
Vale ressaltar que, ao contrário de filmes, séries, programas de televisão e outros produtos culturais, os livros não são considerados produtos classificáveis pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) no Brasil. Essa falta de classificação deteriora ainda mais o argumento da vereadora sobre a necessidade de restringir o acesso aos conteúdos literários.
Reflexão sobre a educação
O debate em torno da proposta de retirada de “Capitães da Areia” das escolas não apenas ilumina as diferenças de opinião sobre o papel da literatura na educação, mas também levanta questões mais amplas sobre a liberdade de expressão e o currículo escolar no Brasil. Cada vez mais, torna-se clara a necessidade de promover um diálogo construtivo que respeite a diversidade e a pluralidade de ideias, essenciais para uma formação educativa que prepare verdadeiramente os jovens para os desafios do mundo contemporâneo.