A IV Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento teve seu início na segunda-feira, 30 de junho, em Sevilha, na Espanha, e se estende até 3 de julho. O evento reúne líderes de governos, organizações internacionais, instituições financeiras, sociedade civil e representantes da ONU para discutir questões emergentes e a necessidade urgente de implementar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
A importância do evento
A conferência não é apenas mais um encontro entre líderes; é uma oportunidade única para abordar a crise global de dívida, que impacta severamente muitos países, especialmente os em desenvolvimento. O arcebispo Balestrero, observador da Santa Sé na ONU, enfatizou a gravidade da situação, afirmando que “o atual sistema de dívida serve aos mercados financeiros, não às pessoas”. Essas palavras, proferidas durante a 26ª sessão do Grupo de Trabalho sobre o Direito ao Desenvolvimento, são um vivo retrato do desafio que muitos países enfrentam.
O relatório da Comissão do Jubileu, liderada pelo economista Joseph Stiglitz, também apoia essa visão, argumentando que a dívida não pode continuar a ser um fardo que limita as oportunidades de desenvolvimento. Stiglitz frisou que a crise econômica que se aproxima pode condenar nações inteiras à estagnação por anos se medidas corretivas não forem implementadas.
A crise da dívida e suas consequências
Durante o evento em Sevilha, os participantes discutirão um “programa para enfrentar as crises de dívida e do desenvolvimento”, visando construir uma economia global mais sustentável e centrada nas pessoas. Com a presença de diversos stakeholders, incluindo representantes de países em desenvolvimento, a conferência é crucial para fomentar a discussão sobre reformas na arquitetura financeira global.
Os países do Sul Global estão enfrentando um momento crítico. 54 nações gastam, atualmente, 10% ou mais de suas receitas tributárias apenas no pagamento de juros da dívida, uma situação que se tornou insustentável. O aumento dos juros globais desde 2022 exacerbou ainda mais essa crise, levando governos a cortar recursos essenciais para saúde, educação e infraestrutura.
Desigualdade e necessidade de ação
As desigualdades e injustiças que permeiam o sistema internacional de financiamento têm gerado tensões e conflitos. Historicamente, decisões que favoreceram os países ricos em detrimento dos países em desenvolvimento resultaram em um legado de exploração. O escritor Suketu Mehta lembra que erros do passado, como o colonialismo, criaram condições que perpetuam a desigualdade. O chamado à ação é claro e urgente: sem justiça, não há paz.
Investindo no futuro
Na conferência, o objetivo não é apenas discutir a dívida, mas, sim, estabelecer soluções viáveis e justas que garantam o desenvolvimento sustentável. Propostas como o aperfeiçoamento dos mecanismos de reestruturação da dívida e a promoção de investimentos a longo prazo são consideradas essenciais. Isso não é apenas uma questão de justiça; é um investimento na paz. Ao aliviar a pressão da dívida, os países podem redirecionar recursos para áreas críticas, promovendo um desenvolvimento real e sustentável.
Riccardo Moro, economista da mídia vaticana, reitera que a expectativa em Sevilha é alta, e a esperança é que os governos consigam transformar as finanças em um instrumento de paz, não de violação da dignidade. Em um momento em que o mundo precisa desesperadamente de soluções, a conferência em Sevilha representa um passo importante para moldar um futuro mais justo e igualitário.
O desfecho desse encontro poderá determinar não apenas novas políticas financeiras, mas também um novo caminho para a diplomacia e a colaboração internacional, refletindo a voz das nações em desenvolvimento que há muito pedem mudanças sistema.
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