Faltando apenas 10 dias para que o presidente Donald Trump restabeleça tarifas específicas para países, a Casa Branca parece estar próxima de não cumprir as amplas reformas comerciais globais que havia prometido durante os três meses em que essas tarifas foram suspensas. A expectativa é que os acordos com até uma dúzia dos maiores parceiros comerciais dos EUA sejam finalizados até o dia 9 de julho, segundo os principais assessores de Trump. Contudo, analisando os dois acordos já realizados, com a China e o Reino Unido, é provável que os pactos disponíveis não resolvam questões centrais, mas abordem apenas tópicos limitados, deixando muitos detalhes para futuras negociações.
A realidade dos acordos comerciais de Trump
Tim Meyer, professor da Duke University law school especializado em comércio internacional, afirma: “Espero que a Casa Branca anuncie uma série de estruturas que chamará de acordos comerciais, mas que não atendem à compreensão comum desse termo.”
Além disso, para diversos outros países que não firmarem acordos, mas que já foram atingidos pela tarifa elevada de Trump em 2 de abril, o presidente ameaçou impor novos encargos acima da taxa básica de 10% que tem estado em vigor durante o período de negociações. Segundo o secretário do Tesouro, Scott Bessent, esses aumentos afetariam principalmente “parceiros comerciais menores”.
Com a aproximação do prazo de 9 de julho, Trump e seus conselheiros deixaram investidores em estado de alerta, enviando sinais ambíguos sobre quais países estão perto de fechar acordos e quais estão longe disso. O resultado das negociações será fundamental para determinar o futuro da agenda comercial de Trump — um pilar central de sua campanha para 2024 — com altas implicações para a economia global e as relações dos EUA com aliados e adversários.
Expectativa e incertezas no mercado
Investidores, no entanto, parecem administrar a incerteza com calma. Os futuros das ações nos EUA subiram na segunda-feira, enquanto o dólar perdeu valor e o mercado de títulos chegou ao seu melhor resultado mensal desde fevereiro. Apesar dessas altas apostas, permanece a dúvida se a administração manterá a firmeza na data limite ou se irá adiá as tarifas para permitir mais tempo para as negociações.
Bessent afirmou que cerca de 20 países que não conseguirem acordos até a próxima quarta-feira poderão continuar negociando, mas suas taxas de tarifas voltarão a subir para a taxa de abril ou permanecerão em 10%, se considerados como “negociando de boa-fé”.
Trump também reiterou sua intenção de estabelecer unilateralmente taxas de tarifas para os países, levando os críticos a questionar se isso levaria a uma escalada nas tensões comerciais. “Podemos fazer o que quisermos”, disse Trump em uma coletiva de imprensa na Casa Branca, sugerindo que gostaria de enviar notificações a cada país informando que eles teriam que pagar 25% a partir de agora.
O impacto nas relações comerciais
Recentemente, Trump anunciou abruptamente na mídia social a interrupção das conversações comerciais com o Canadá devido ao imposto sobre serviços digitais, ameaçando estabelecer uma nova tarifa em uma semana. Essa manobra também foi vista como um aviso a outros líderes que Trump considera problemáticos. O Canadá, em resposta, retirou seu imposto sobre serviços digitais para retomar as negociações com os EUA.
As declarações rápidas de Trump serviram como mais um lembrete para os governos estrangeiros sobre a capacidade do presidente de mudar de rumo rapidamente. Durante os dias finais frenéticos antes do prazo, líderes de vários países estão se esforçando para lobby-lo, enquanto delegações viajam para Washington em busca de esclarecimentos e soluções.
Os Estados Unidos estão se aproximando de acordos com economias como Taiwan e Indonésia, conforme indica uma fonte próxima às conversações. Pactos também estão sendo discutidos com Vietnã e Coreia do Sul, e Trump tem insinuado a possibilidade de um acordo com a Índia.
O futuro dos acordos comerciais
Enquanto os assessores de Trump prometem a finalização de vários acordos, a expectativa é que ele não alcance as metas precoces de “90 acordos em 90 dias”, conforme anunciada anteriormente pelo assessor de comércio, Peter Navarro. As negociações têm mostrado que não há garantias e muitos países estão hesitantes em assinar acordos sem saber quais serão o impacto das taxas adicionais.
A incerteza em torno da legalidade das tarifas também persiste, uma vez que uma batalha legal está em andamento sobre os poderes de emergência utilizados por Trump para impor as tarifas. O Tribunal de Comércio Internacional dos EUA decidiu em maio que a maioria das tarifas foi imposta de maneira ilegal e ordenou sua suspensão, embora um tribunal de apelações tenha permitido que se mantivessem até que o caso seja discutido no final de julho.
Por fim, enquanto as ameaças de Trump têm causado alvoroço mundial, seu padrão de ameaçar tarifas apenas para depois recuar, sinaliza a outros líderes do mundo que concessões modestas podem ser suficientes para que ele se retrate, elevando assim a tensão nas negociações comerciais e a ansiedade nos mercados financeiros.
Com a administração cada vez mais pressionada a encontrar soluções, pode ser que o presidente tenha que se adaptar à realidade das negociações comerciais contemporâneas, onde o volume das transações frequentemente supera promessas feitas.