Brasil, 1 de julho de 2025
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Transgêneros no exército dos EUA: a luta de Kara Corcoran

A história de Maj Kara Corcoran reitera os desafios enfrentados por transgêneros no exército dos EUA após as novas diretrizes.

Depois de 17 anos servindo no Exército dos Estados Unidos, a major Kara Corcoran, de 39 anos, se preparava para se formar em um programa de liderança militar de elite. No entanto, um obstáculo inesperado surgiu: a dois dias da cerimônia, ela foi informada de que precisava se submeter às normas masculinas, o que incluía usar o uniforme masculino e cortar o cabelo longo que havia deixado crescer desde que se identificou como mulher em 2018. Essa ordem veio do Pentágono e foi repassada através de sua cadeia de comando em Fort Leavenworth, Kansas.

“Nada sobre mim é um homem, mas vão me forçar a seguir as normas masculinas apenas para que eu possa atravessar o palco com meus colegas”, declarou Kara, angustiada às vésperas da cerimônia. “Não é minha escolha cortar meu cabelo. Estou fazendo isso porque sou obrigada.”

Kara é uma entre milhares de pessoas transgênero afetadas por uma nova política imposta pelo ex-presidente Donald Trump, em janeiro, que proíbe a presença de transgêneros em qualquer função no exército dos EUA. Embora uma proibição anterior tenha se concentrado apenas em novos recrutas e permitido algumas exceções para aqueles que já estavam em serviço, a política de 2025 remove quase todas as exceções. Estima-se que existam cerca de 10.000 membros transgêneros ativos nas forças armadas, embora números oficiais apontem apenas 4.200.

Uma luta por direitos e identidade

A nova política estabelece que ter um histórico ou diagnóstico de disforia de gênero é “incompatível com os altos padrões mentais e físicos necessários para o serviço militar”. Uma ordem executiva de Trump declarou que “as Forças Armadas foram afetadas pela ideologia de gênero radical” e que a política garantiria que o pessoal estaria “livre de condições médicas ou deficiências físicas que possam razoavelmente exigir tempo excessivo fora do dever para tratamento necessário ou hospitalização”.

Um estudo da Gallup de fevereiro deste ano indicou que 58% dos americanos “apoiam permitir que homens e mulheres transgêneros sirvam abertamente no exército dos EUA”, embora esse apoio tenha diminuído em relação aos 71% registrados em 2019. A proibição atual foi amplamente criticada como discriminatória, e processos judiciais foram movidos por oficiais transgêneros em serviço e grupos de direitos humanos.

Em uma série de reportagens, a BBC tem acompanhado as vidas de Kara Corcoran e de um oficial da Marinha, o tenente Rae Timberlake, enquanto navegam pela incerteza de suas carreiras militares.

Carreira sob ameaça

Kara durante treinamento com rifle
Kara durante treinamento com rifle perto de sua base em Leavenworth, Kansas.

Kara passou a maior parte de sua vida adulta no Exército dos EUA, com implantações de combate que incluíram o Afeganistão, onde foi líder de pelotão e comandante de companhia, vivendo como homem antes de fazer a transição. Desde então, ela mudou legalmente seu nome e gênero, passando a usar pronomes femininos. Nos últimos anos, a política de inclusão de pessoas trans no exército dos EUA tem cruzado um caminho sinuoso, com as mudanças de governo influenciando diretamente estas diretrizes.

  • 2016: Obama revoga a proibição de pessoas trans servirem, permitindo acesso a fundos para tratamento relacionado ao gênero.
  • 2017: Trump anuncia a proibição de pessoas trans, citando custos médicos e potenciais interrupções.
  • 2021: Biden assina uma ordem restaurando o direito de transgêneros servirem.
  • 2025: Trump anuncia uma nova proibição e bases são instruídas a iniciar os processos de separação de pessoal com disforia de gênero.

“Por muito tempo, fiquei em silêncio”, diz Kara. “Quando entrei, as mulheres não podiam estar em posições de combate.”

Impacto na vida pessoal e profissional

Agora, com a política de Trump em vigor, Kara foi informada de que, a menos que escolha sair voluntariamente, poderá ser forçada a deixar o serviço. O processo de separação involuntária pode afetar qualquer membro, não apenas aqueles em funções de combate, e pode resultar na perda de benefícios essenciais, como pensões e cuidados médicos. O Departamento de Defesa afirmou que aqueles que saírem involuntariamente podem receber apenas metade do que receberiam se saíssem voluntariamente.

Apesar das consequências, Kara afirma que não deseja deixar o exército. “Não vou me separar voluntariamente. Vou enfrentar a separação involuntária e encararei como isso irá acontecer”, diz ela. “Estou pronta para qualquer coisa.”

A batalha legal e política continua

Embora o Departamento de Defesa defenda que a proibição generaliza padrões médicos e de prontidão entre as forças, opositores afirmam que a política atinge de maneira injusta um grupo vulnerável. Várias ações judiciais foram movidas para desafiar a legalidade da proibição. Em uma decisão importante, um juiz federal bloqueou temporariamente a proibição, alegando preocupações de constitucionalidade e discriminação. Contudo, em abril, a Suprema Corte suspendeu a liminar, permitindo que a política seguisse em frente enquanto os litígios prosseguem.

Rae Timberlake pensando sobre sua situação
Rae Timberlake reflete sobre seu futuro.

A incerteza sobre o futuro pesa sobre integrantes transgêneros nas forças armadas. Enquanto isso, tanto Kara quanto Rae estão enfrentando um novo capítulo em suas vidas, esperando que suas vozes e histórias possam inspirar um futuro mais inclusivo para todos dentro das forças armadas.

Kara, por sua vez, se prepara para o que possa vir enquanto continua a lutar por seu lugar e identidade. “Isso é sobre pessoas que dedicaram suas vidas ao serviço, agora sendo informadas de que não são mais adequadas, não por conta do desempenho, mas por quem são”.

Essa situação revela a urgência de uma discussão mais ampla sobre identidade de gênero, direitos humanos e respeito por aqueles que servem ao país, independentemente de como se identificam.

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