Uma emocionante descoberta ocorreu na Reserva Biológica de Araras, em Petrópolis, onde a espécie de porco selvagem conhecida como queixada (Tayassu pecari) foi vista novamente. As primeiras imagens desse animal foram capturadas em 2021, e desde então, um rigoroso monitoramento tem sido realizado ao longo de três anos. A pesquisa foi recentemente divulgada na revista científica “Suiform Soundings”, da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), trazendo boas notícias para a biodiversidade da região.
A importância do monitoramento de espécies
O monitoramento do queixada é resultado de um programa liderado pela pesquisadora e guarda-parque do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Vanessa Cabral Barbosa, em colaboração com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Este projeto inclui a coleta sistemática de dados sobre a biodiversidade local utilizando armadilhas fotográficas, análise de vestígios, e registro de abundância e distribuição das espécies. Além disso, os pesquisadores avaliam os impactos das atividades humanas sobre a fauna local.
O queixada é uma espécie que se caracteriza pela pelagem escura e um distintivo “queixo branco”. Em grupos, esses animais podem atingir até cem indivíduos, o que revela seu comportamento social. Contudo, a espécie é classificada como Vulnerável na Lista Vermelha da IUCN, principalmente pela perda de habitat e pela caça excessiva. O monitoramento entre 2021 e 2023 revelou a presença de bandos que variam de 20 a 60 indivíduos em áreas de floresta contínua, evidenciando a importância dos corredores ecológicos na preservação deste animal e do ecossistema da Mata Atlântica.
Impactos nas políticas de conservação
A relevância dos dados coletados levou à inclusão da pesquisa na consulta nacional sobre ungulados ameaçados, onde, pela primeira vez, unidades de conservação estaduais participaram oficialmente. Isso representa um avanço significativo nas políticas públicas para a conservação da biodiversidade. A pesquisa incluiu não apenas a Rebio Araras, mas também o Parque Estadual do Cunhambebe, que registrou pela primeira vez a presença da anta (Tapirus terrestris), e o Parque Estadual da Pedra Selada.
Em suas palavras, o secretário de Estado do Ambiente e Sustentabilidade, Bernardo Rossi, destacou a importância das unidades de conservação: “A redescoberta dessa espécie demonstra que são essenciais para proteger os remanescentes florestais e a diversidade biológica da Mata Atlântica. Estamos, portanto, fortalecendo nossas políticas públicas voltadas para a preservação do nosso patrimônio ambiental”.
O papel ecológico do queixada
Segundo Vanessa Cabral, os queixadas desempenham um papel ecológico fundamental no ecossistema, controlando as populações de outras espécies, além de promover a regeneração da floresta. “O reaparecimento do queixada no Rio de Janeiro demonstra que a conservação, atrelada ao monitoramento sistemático e à cooperação entre pesquisadores, gestores e comunidades, pode reverter cenários de extinção da fauna. Tais avanços reafirmam a necessidade de políticas de conservação efetivas para o bioma Mata Atlântica”, enfatiza Vanessa.
Essa redescoberta é um símbolo da resiliência da natureza e da importância de esforços contínuos para a conservação da biodiversidade. À medida que mais pesquisadores e instituições se unirem para proteger as espécies ameaçadas, a esperança de um futuro sustentável para a Mata Atlântica se torna mais promissora.
É imprescindível que a sociedade se mobilize em torno da proteção das unidades de conservação, garantindo que não apenas o queixada, mas outras espécies também tenham um futuro seguro e brilhante nessa rica biodiversidade brasileira.
A revitalização dos habitats naturais não só favorece as espécies ameaçadas, mas também proporciona benefícios significativos para as comunidades locais, promovendo um equilíbrio entre desenvolvimento humano e preservação ambiental. O caminho a seguir exige compromisso, ação e a união de esforços em prol da natureza, de modo a garantir que a Mata Atlântica continue a ser um santuário para a vida selvagem e um legado para as futuras gerações.