Após uma década de trabalhos meticulosos, a imponente Sala de Constantino, na Basílica Vaticana, foi reaberta ao público nesta semana, restaurada ao seu esplendor original. A obra, que durou de 2015 a 2024, destacou técnicas inéditas e revelou segredos sobre o mestre renascentista Raphael, responsável pelos afrescos dessa sala icônica.
Restauro exemplar revela segredos de Raphael
Responsável pelo projeto, a diretora dos Museus Vaticanos, Barbara Jatta, afirmou que a intervenção “reescreveu a história da arte”, destacando avanços científicos que permitiram entender melhor os métodos utilizados por Raphael. Segundo ela, a restauração foi conduzida em oito fases, começando pela parede de “A Visão da Cruz” e finalizando na abóbada decorada por Tommaso Laureti.
A restauração não só recuperou o brilho das obras, mas também revelou inovações técnicas, como o uso de óleo em afrescos — uma prática pouco comum na época — confirmada por análises físicas realizadas com tecnologias como refractografia infravermelha de 1.900 nanômetros e luz ultravioleta. “Raphael experimentou novas técnicas que apenas agora conseguimos comprovar”, explicou Fabrizio Biferali, supervisor do setor de restauração.
Descobertas revolucionárias e técnicas inovadoras
Um dos principais achados do projeto foi a confirmação de que duas figuras femininas, Comitas e Iustitia, foram pintadas por Raphael em óleo, uma técnica revolucionária para murais no século XVI. O uso de resina de pinho aquecida, aplicada na parede, permitiu que Raphael realizasse retoques e criasse uma unidade visual até então desconhecida.
“Este foi seu último grande projeto decorativo, marcando uma virada técnica na história do afresco”, disse Piacentini, que coordenou o trabalho. A presença de pregos na parede indica que Raphael planejava pintar toda a sala a óleo, projeto interrompido por sua morte precoce, em 1520, aos 37 anos. Seus discípulos continuaram a obra, completando as cenas restantes.
Uma espécie de palimpsesto artístico do século XVI
A Sala de Constantino foi decorada ao longo de mais de 60 anos, sob cinco papas, por diferentes artistas e oficinas. O resultado é um verdadeiro palimpsesto artístico, que apresenta cenas emblemáticas da transição de Roma de pagã para cristã: “A Visão da Cruz”, “A Batalha da Ponte Mílvia”, “O Batismo de Constantino” e “A Doação de Roma”.
Estas obras refletem não apenas uma mudança política, mas também representam o auge da pintura romana do século XVI, com uma síntese de estilos e técnicas que marcaram a época.
A ilusão na abóbada e o legado de Laureti
Outro destaque do processo foi a restauração da abóbada, obra de Tommaso Laureti, que criou uma ilusão de perspectiva com um tapete pintado no teto, simulando um tecido luxuoso. A intervenção eliminou o traçado de um antigo teto de madeira, revelando uma obra de ilusionismo que impressiona pela profundidade e detalhes.
Restauro como exemplo para o mundo
O projeto foi financiado pelo capítulo de Nova York dos Patronos das Artes nos Museus Vaticanos, pela Fundação Carlson, além do apoio do Estado da Cidade do Vaticano. Todo o procedimento foi documentado por escaneamentos a laser e modelos tridimensionais, tornando-se referência internacional na restauração de grandes murais.
Segundo Morresi, do Escritório de Pesquisa Científica do Vaticano, “o mais emocionante é perceber como os artistas do passado transformaram matéria e química em obras tão maravilhosas”. A abertura da Sala de Constantino não só garante a preservação de um patrimônio universal, mas também celebra a genialidade de Rafael, símbolo do Renascimento.
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