A guerra na Ucrânia tem revelado face ocultas e perigosas que poucos conhecem. Uma dessas facetas é o aliciamento de jovens, como Oleh, 19 anos, que na busca de dinheiro fácil, se viu no centro de um esquema de ataques coordenados por agentes russos. Ele frequentemente acessava canais do Telegram em busca de empregos temporários, mas o que parecia uma oportunidade inocente rapidamente se transformou em um pesadelo.
A oferta tentadora e a realidade assustadora
Oleh recebeu uma proposta tentadora: viajar de sua casa no leste da Ucrânia até Rivne, onde deveria coletar uma mochila que ele acreditava conter spray para pintar. O pagamento de US$ 1.000 por uma manhã de trabalho era extremamente atraente para ele, que enfrentava dificuldades financeiras e tinha um recém-nascido para sustentar.
No entanto, ao abrir a mochila, houve uma reviravolta horripilante. No lugar do esperado spray, ele encontrou um dispositivo que parecia uma bomba caseira, ligado a mecanismos de detonação remota. Se tivesse ativado a bomba, Oleh teria se tornado, sem saber, um terrorista suicida.
A crescente ameaça na Ucrânia
De acordo com informações da SBU, a segurança ucraniana, a campanha de sabotagem russa na Ucrânia começou no ano passado, evoluindo de simples atos de incêndio para ataques mais sofisticados, que envolvem bombas. As autoridades ucranianas relatam que mais de uma dúzia de ataques com jovens aliciados resultaram em mortes e feridos. As ofertas são frequentemente disseminadas através de canais do Telegram, onde “curadores” recrutam e manipulam os jovens com promessas de dinheiro ou ameaças.
Psicologia do recrutamento
Os “curadores” utilizam uma combinação de incentivo emocional e ameaças diretas para controlar os recrutados. Em muitos casos, a abordagem é personalizada, com o uso de gírias da juventude e uma fachada de apoio aos sentimentos dos jovens, fazendo-os acreditar que estão lutando contra a guerra. A SBU estima que muitos dos aliciados são adolescentes, com um percentual significativo envolvendo menores de idade. Alegadamente, é uma prática comum que esses jovens sejam usados como “bombas humanas”.
Um plano interceptado
Olhando para o mês de fevereiro, após se encontrar com Serhiy, um amigo de escola, para realizar o trabalho, os dois foram monitorados por forças da SBU desde o momento em que pegaram a mochila. Um ataque semelhante ocorrera em Rivne apenas três dias antes, resultando na morte do atacante e ferimentos em vários outros.
Enquanto Oleh seguiu as instruções de seu contato no Telegram, a SBU bloqueou sinais telefônicos que poderiam ativar as explosões. Isso impediu que os dispositivos levassem à tragédia naquele dia, salvando não apenas a vida de Oleh e Serhiy, mas possivelmente muitas outras.
Consequências e reflexões
Atualmente aguardando julgamento, os dois amigos enfrentam potenciais penas de até 12 anos de prisão. Oleh tenta compreender a gravidade de sua situação e reflete sobre as mensagens que recebeu de sua família e de sua parceira, que insistem que suas ações foram irresponsáveis.
Enquanto a guerra continua e as estratégias de recrutamento se evoluem, há uma inquietação crescente sobre como essa abordagem poderá se espalhar além das fronteiras ucranianas. Especialistas alertam que o que está acontecendo na Ucrânia pode ser um teste para táticas futuras de guerra e terrorismo, potencialmente se incubando em outras partes da Europa.
A reflexão final é clara: a guerra não apenas destrói vidas, mas também transforma as mentes jovens, levando-os a acreditar que suas ações são heroicas enquanto as circunstâncias os empurram para o abismo. A luta pela sobrevivência em um mundo em guerra pode transformar qualquer um em um alvo e, muitas vezes, em um instrumento do terror.
A SBU continua a lançar campanhas de conscientização nas escolas para alertar os jovens sobre os riscos de se envolver com estranhos e ofertas tentadoras, enquanto eles tentam desmantelar essa rede obscura e sombria que está se alastrando pela Ucrânia.
