Na escola pública de Los Angeles onde ensino, a maioria dos estudantes é composta por imigrantes, muitos deles sem documentação, que enfrentam uma crise de insegurança e discriminação agravada pelas políticas do governo federal. Com cerca de um quarto dos alunos do distrito escolar estadual sendo imigrantes ou filhos de imigrantes, a celebração de nossa cerimônia de formatura ocorreu sob a sombra de ameaças de operações de imigração e controle policial reforçado.
O impacto das ações anti-imigração na rotina escolar
No dia da nossa cerimônia de formatura, policiais escolares patrulhavam as proximidades, atentos a possíveis ações do ICE, enquanto algumas escolas optaram por transmitir as cerimônias via Zoom, evitando aglomerações por medo de operações de imigração em massa. Para muitas famílias, esse dia representa anos de esforço e sacrifício, mas a ameaça constante de uma possível deportação assombra seus momentos de alegria.
O medo de uma operação do ICE é real, especialmente após declarações do secretário de Segurança Interna, Kristi Noem, que chegou a descrever Los Angeles como uma “cidade de criminosos”, alimentando uma narrativa de criminalização dos imigrantes e reforçando o clima de hostilidade na cidade.
Histórias de resistência e superação
Durante a cerimônia, pude observar o empenho de muitos estudantes que, apesar de enfrentarem experiências traumáticas, persistem em suas metas. Um deles, de 17 anos, trabalha aos finais de semana na empresa de seu família desde os 12 anos, e conquistou uma vaga em UCLA com bolsa de estudos. Há também a jovem que, este ano, enfrentou o risco de estar na rua por causa da homelessness, enquanto luta para realizar seu sonho na arte.
Relatos de uma jornada difícil
Um exemplo marcante é uma estudante que cresceu em uma favela de San Salvador, onde meninas eram obrigadas a relacionar-se com membros de gangues. Ela foi alvo de uma tentativa de se tornar vítima de violência, mas conseguiu escapar, atravessando Guatemala e México até chegar aos EUA, buscando reencontrar seu pai em LA. Ela conta essa história com lágrimas nos olhos, enquanto seu pai expressa orgulho e esperança para o futuro dela, que sonha em ser artista.
O papel dos jovens imigrantes na sociedade americana
Muitos desses estudantes se juntam às forças armadas, atraídos pela oportunidade econômica ou pela esperança de regularizar sua situação migratória. Na minha turma, três ou quatro estudantes por classe entram no Exército, muitas vezes o Marine Corps, após o ensino médio, vendo na instituição uma chance de ascensão social.
Esses jovens, que poderiam estar na universidade se tivessem condições diferentes, muitas vezes veem na força militar uma alternativa de sobrevivência e oportunidade de cidadania, além de ajudar suas famílias a regularizar suas próprias condições migratórias.
Valiosos para a economia e a comunidade
Os imigrantes representam uma força vital para setores como construção, agricultura, hospitalidade, cuidados à terceira idade e alimentação. Durante anos, cuidei de meus pais com profissionais imigrantes, cujo trabalho cuidadoso e dedicado é fundamental para o bem-estar de nossas famílias e comunidades.
Contrariando a narrativa de que imigrantes são beneficiários de assistências sociais sem contribuir, dados mostram que eles pagam bilhões de dólares em impostos estaduais, federais e locais, mesmo muitas vezes de forma informal, através do aluguel e impostos indiretos. Segundo estimativas, os imigrantes contribuem com mais de 50 bilhões de dólares em impostos estaduais e federais anualmente, além de fornecer uma força de trabalho indispensável.
O futuro sob tensão
Um dos principais motivos de protestos agora é a incerteza sobre o destino das famílias que são separadas pelos procedimentos de deportação. A questão de como garantir justiça e direito de defesa para os imigrantes ainda não tem resposta clara, enquanto os líderes do governo defendem suas ações como uma forma de “proteger a sociedade”.
Polêmicas como a justificativa de que as operações do ICE visam prender criminosos, enquanto há relatos de operações de rotina que atingem famílias trabalhadoras, aumentam a sensação de insegurança entre os imigrantes e suas comunidades.
Esperança e perseverança
Mesmo diante desse cenário difícil, estudantes como o jovem que conseguirá estudar na universidade me dão esperança. Ele chegou há poucos anos sem falar inglês, e agora conquista uma vaga em uma instituição de ensino superior para cursar engenharia biomédica — uma esperança de contribuir para a sociedade e desafiar as narrativas de exclusão.
Ao nos despedirmos após a formatura, ele me deixou uma frase simples, mas poderosa: “Só continue seguindo em frente.” E essa é a mensagem que compartilho com todos que lutam por um futuro melhor, mesmo em tempos de crise e hostilidade.
Glenn Sacks, professor de governo, economia e história na LAUSD, reflete sobre a resiliência de seus alunos imigrantes e a necessidade de uma sociedade que reconheça seu valor. Sua história foi originalmente publicada no HuffPost, em junho de 2025.