Brasil, 29 de junho de 2025
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Beyoncé e a polêmica camiseta dos Buffalo Soldiers

A camiseta que Beyoncé usou durante um show gerou críticas sobre como a história americana é narrada.

A cantora Beyoncé, em sua recente apresentação na turnê “Cowboy Carter” em Paris, vestiu uma camiseta que provocou um intenso debate sobre a forma como a história americana é compreendida e narrada. A peça trazia imagens dos Buffalo Soldiers, soldados afro-americanos que serviram no exército dos EUA pós-Guerra Civil. As reações foram intensificadas por um trecho escrito na parte de trás da camiseta que descrevia esses soldados como combatentes de inimigos que ameaçavam a paz, como indígenas e revolucionários mexicanos, uma escolha que gerou amplas críticas, principalmente nas redes sociais.

A repercussão e as críticas nas redes sociais

Ao retornar aos Estados Unidos para shows programados em sua cidade natal, Houston, críticos e influenciadores indígenas se manifestaram nas redes sociais, apontando que a camiseta representa uma narrativa que invisibiliza as consequências da imperialismo americano sobre os povos nativos e deslegitima suas experiências. O uso de tal icônica figura militar por uma artista de renome global como Beyoncé foi visto como uma falta de sensibilidade histórica. Em resposta à controvérsia, um porta-voz da cantora não se manifestou.

Quem foram os Buffalo Soldiers?

Os Buffalo Soldiers foram criados em 1866, após a Guerra Civil, e eram compostos em sua maioria por homens afro-americanos, muitos deles ex-escravizados. Eles lutaram em vários conflitos, incluindo a Guerra Hispano-Americana e nas duas Guerras Mundiais, e foram desmobilizados em 1951. Durante sua atuação, esses soldados participaram de campanhas que resultaram na subjugação de diversas comunidades indígenas, sendo esta uma parte controversa da sua história.

A complexidade da narrativa histórica

Museus, como o Buffalo Soldiers National Museum em Houston, reconheceram a necessidade de abordar as complexidades dessa história e do impacto das ações dos Buffalo Soldiers sobre os povos indígenas. Cale Carter, diretor de exposições do museu, mencionou que a narrativa sobre os Buffalo Soldiers foi romantizada por muito tempo, e que as mudanças nessa apresentação estão apenas começando a acontecer.

Michelle Tovar, diretora de educação do museu, acrescenta que a situação atual política em muitas escolas, que frequentemente impede uma discussão honesta sobre a história americana, reforça a importância de lugares como o museu que oferecem uma visão mais completa e inclusiva. Segundo ela, o museu busca ser um centro de aprendizado sobre a verdadeira história, independentemente da resistência que enfrentam nas salas de aula.

Uma abordagem crítica à apropriação cultural

A recente obra de Beyoncé, “Act II: Cowboy Carter”, foi interpretada por alguns como uma tentativa de subverter a estética ocidental associada à música country, enquanto outros alertam para as complexidades que isso envolve. Tad Stoermer, historiador da Johns Hopkins University, destaca que a imagem dos Buffalo Soldiers possui um significado notável, mas também pode perpetuar narrativas de nacionalismo americano que omitiram suas complexidades.

A acadêmica Alaina E. Roberts realça que o uso da história dos Buffalo Soldiers por Beyoncé pode ser visto como uma tentativa de reivindicar o papel dos afro-americanos na construção do país. Porém, isso se torna problemático quando se considera o papel ativo desses soldados na opressão de outros grupos, como os indígenas.

A resposta online e o impacto cultural

A polêmica fez com que influenciadores indígenas e críticos da cultura pop expressassem sua indignação nas redes sociais. Uma das críticas aponta que não há uma forma “progressista” de reivindicar a história da construção do império americano e que a simbolização do Ocidente por Beyoncé pode enviar uma mensagem problemática sobre o nacionalismo. Muitas postagens alertam que esse tipo de narrativa sugere que a virtude política está atrelada a quem ocupou a terra por mais tempo, o que marginaliza os povos indígenas e imigrantes.

Entre as várias vozes contrárias, a tiktoker Chisom Okorafor argumenta que devemos ser honestos sobre as consequências das ações dos Buffalo Soldiers e como isso se relaciona com a construção da identidade americana. A discussão em torno da camiseta de Beyoncé, portanto, transcende o ato em si e abre um sério debate sobre a percepção e o reconhecimento da história na cultura contemporânea.

A discussão levantada pela camiseta de Beyoncé nos leva a refletir sobre como a história é contada e quem são os protagonistas dessa narrativa. Enquanto a cantora continua sua turnê, o impacto de suas escolhas de vestuário e a repercussão sobre eles se tornam um testemunho da luta constante por reconhecimento na complexa tapeçaria que é a história americana.

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