Com uma nova abordagem em relação ao turismo, o Afeganistão começa a abrir suas portas para viajantes, que agora chegam de avião, motocicleta, van e até mesmo de bicicleta. Esse movimento é impulsionado pela recente governança do Talibã, que, apesar de ainda não reconhecido oficialmente por nenhum país, está ansioso para promover o turismo como uma forma de revitalizar a economia e a imagem internacional do país.
Uma indústria promissora
O turismo, que representa uma indústria de bilhões de dólares em diversas partes do mundo, pode ser uma tábua de salvação para o Afeganistão, um país que luta com a pobreza extrema e identifica a necessidade urgente de investimentos estrangeiros. O vice-ministro do Turismo, Qudratullah Jamal, afirmou: “O povo afegão é caloroso e acolhedor e deseja receber turistas de outros países. O turismo traz muitos benefícios a um país.”
De fato, a possibilidade de gerar receitas substanciais e melhorar a qualidade de vida da população através do turismo não passa despercebida pelo governo local. Jamal destacou que os gastos dos visitantes podem impactar diferentes estratos sociais, trazendo impulsos na economia nacional.
Um fluxo controlado de turistas
Atualmente, o número de turistas que visita o Afeganistão é ainda modesto, com cerca de 9.000 visitantes no ano passado e aproximadamente 3.000 nos primeiros três meses de 2023. Embora se trate de um progresso, as diretrizes de segurança ainda são severas, especialmente para aqueles que desejam explorar as áreas mais remotas e históricas, como o Parque Nacional Band-e-Amir e os vales de Bamiyan.
O cenário de segurança, embora tenha melhorado em comparação com os anos anteriores de conflito contínuo, permanece frágil. O Talibã tomou o poder em agosto de 2021, e, apesar da diminuição da violência generalizada, ataques isolados ainda ocorrem, como o ataque recente que resultou na morte de turistas na região de Bamiyan, conhecida por suas famosas estátuas de Buda.
A ética por trás do turismo
Enquanto muitos se aventuram a visitar o Afeganistão, a questão ética em torno do turismo no país levanta debates acalorados. Críticos afirmam que a visita de estrangeiros ao Afeganistão, sob um regime que discrimina severamente sua população, carece de moralidade. As restrições impostas às mulheres são severas, incluindo a proibição da educação além do ensino fundamental, bem como o acesso a espaços públicos, incluindo parques e salas de ginástica.
Apesar disso, alguns turistas argumentam que sua presença visa apoiar a população local e não o governo. A viajante Illary Gomez, de origem francês-peruana, expressou que a decisão de visitar o Afeganistão foi ponderada, mas ela e seu parceiro decidiram que a riqueza cultural e a beleza das paisagens valiam a experiência.
Construindo pontes
Representantes do governo, como Jamal, acreditam que abrir as portas para turistas é uma maneira de construir pontes entre culturas e promover intercâmbio. Segundo ele, “quando os estrangeiros vêm aqui, os afegãos também aprendem muito com eles.” Essa interação é vista como vital para o desenvolvimento econômico e social do país, podendo fomentar uma compreensão mútua e o fortalecimento das relações internacionais.
No entanto, a realidade para as mulheres ainda é restritiva. Embora as turistas estrangeiras tenham um tratamento menos rigoroso em comparação às afegãs, a necessidade de respeito às leis e costumes locais permanece. A recepção amigável dos afegãos contrasta fortemente com as políticas do governo em relação a direitos humanos e igualdade de gênero.
À medida que o Afeganistão atravessa essa nova fase, o equilíbrio entre o desejo de promover o turismo e a necessidade de lidar com as preocupações éticas relacionadas à sua sociedade será um desafio contínuo. Enquanto o governo busca maximizar os benefícios econômicos do turismo, as vozes críticas e as realidades sociais não devem ser ignoradas.
Assim, o país se vê em um momento crítico, onde a esperança de um renascimento cultural e a realidade dos direitos humanos exigem atenção e reflexão de viajantes e observadores ao redor do mundo.