A economia mundial assemelha-se a um supercomputador que processa trilhões de cálculos de preços e quantidades, fornecendo informações sobre rendimentos, riqueza, lucros e empregos. Esta é a essência do capitalismo, um sistema de processamento de informações eficiente que, como qualquer computador, depende de hardware e software. O hardware envolve mercados, instituições e regimes regulatórios que compõem a economia; o software se refere às ideias econômicas predominantes, ou seja, àquilo que a sociedade decidiu que a economia deve servir.
A crise atual e a necessidade de um reboot
Na maior parte do tempo, esse “computador” funciona bem, mas ocasionalmente ele “travou”. Nesse contexto, o sistema econômico global enfrenta um momento crítico, necessitando de uma atualização de software e, possivelmente, de uma reformulação profunda do hardware. Estamos, portanto, diante de um momento Control-Alt-Delete, em que o neoliberalismo enfrentou uma crise sem precedentes, alimentada por guerras comerciais, inseguranças sobre a dívida dos EUA e uma confiança do consumidor em queda.
A era da globalização liderada pelos EUA, caracterizada pelo livre comércio e sociedades abertas, chegou ao fim. Este novo “reboot”, que muitos analistas consideram uma questão de urgência, marca um momento que não se via há quase um século. A transformação engendra uma reavaliação das ideias que governam nossa economia, exigindo que a sociedade decida que tipo de nova ordem econômica desejamos.
Uma lição do passado: o impacto do New Deal
O último período significativo de “hard-restart” ocorreu nos anos 1930, quando a crise econômica resultou na Grande Depressão. A falência de bancos levou a uma onda de falências empresariais, com a taxa de desemprego chegando a 25% em algumas regiões dos EUA. A resposta do governo, através do New Deal de Franklin D. Roosevelt, foi crucial para trazer estabilidade, mas exigiu um novo entendimento do que a economia deveria proporcionar, priorizando o pleno emprego e intervenções estatais.
As mudanças implementadas durante o New Deal levaram a um crescimento econômico sustentado, mas o modelo acabou por revelar suas fraquezas nos anos 70, quando os lucros caíram diante do aumento dos salários e da inflação. Essa tumultuada transição acabou levando ao que conhecemos como neoliberalismo, onde as prioridades passaram a ser a estabilidade de preços e a mobilidade de capital, com um sistema que, por sua vez, se tornou mais independente e centrado no mercado.
O desafio contemporâneo: Trump e o nacionalismo econômico
Hoje, a trajetória econômica é marcada pela ascensão de Trump e o crescente populismo de direita, que se apresenta como resposta ao legado neoliberal que deixou muitos trabalhadores americanos à deriva. A abordagem de Trump se baseia em uma reindustrialização focada em empregos pesados e uma política econômica mercantilista. No entanto, essa visão retrógrada enfrenta críticas e desafios: o futuro da produção pode exigir mais robôs do que trabalhadores humanos, e o ideal de reduzir a imigração pode não ser viável em uma economia globalizada.
Caminhos para o futuro: propostas em debate
O debate político atual gira em torno de como construir uma alternativa viável atenta às necessidades dos cidadãos que se sentem excluídos do actual crescimento econômico. Propostas vão desde a reinvenção de políticas de esquerda com um foco anti-oligárquico até uma agenda de “abundância”, que promete um crescimento mais inclusivo e uma menor regulação. Contudo, os desafios são imensos e a rapidez das mudanças sociais exige uma coragem política para que novas ideias prosperem.
Uma nova ordem econômica em formação
A nova ordem econômica ainda não está definida e pode ser moldada por aqueles que a desejam. Entretanto, a urgência de uma nova ideia a respeito do que a economia deve ser e para quem ela serve se torna um imperativo. Embora o discurso populista de direita proponha uma modernização regressiva, há um espaço aberto para um projeto de transformação econômica mais inclusivo e sustentável, que considere a complexidade dos desafios contemporâneos.
O tempo é curto, e a necessidade de uma liderança corajosa que explore novos rumos e ideeias é maior do que nunca. Apenas assim poderemos moldar o futuro do capitalismo e garantir que ele funcione em prol de todos os cidadãos.