Desde 2019, Ivan Martinho é o principal nome da World Surf League (WSL) na América Latina. Como presidente regional, ele tem se esforçado para consolidar o surfe na região e desenvolver iniciativas comerciais e de mídia. Em uma entrevista reveladora ao GLOBO, ele compartilha os desafios da etapa de Saquarema e os planos da WSL para promover mais diversidade no tour.
Os desafios da etapa de Saquarema
Saquarema, tradicionalmente conhecida por suas ondas, tornou-se a etapa mais importante da WSL, superando até mesmo proeminentes locais como Huntington Beach, na Califórnia. Martinho explica que o planejamento dessa competição começa em julho do ano anterior. Após cada evento, a equipe realiza uma análise detalhada que envolve feedback do público e avalia o sentimento em relação ao evento. “A ideia é entender o que funcionou e o que pode ser melhorado. Depois disso, começamos a trabalhar com diferentes equipes – desde marketing até logística – para garantir que a próxima etapa seja ainda melhor”, afirma.
Inovação na experiência do público
Uma das inovações trazidas para a etapa de Saquarema é o conceito de day end. Através dessa iniciativa, a WSL busca diversificar as atividades em dias em que não há competição, oferecendo entretenimento ao público, além de sessões de autógrafos e treinos com os surfistas. “Com isso, o evento continua vivo, atraindo mais pessoas e movimentando a economia local”, explica Martinho. Esta mudança reflete uma compreensão mais pragmática do clima e das condições do mar, otimizando a experiência dos visitantes mesmo quando as ondas não favorecem a competição.
Fontes de investimento e apoio público
Uma das questões cruciais na realização da etapa de Saquarema é o financiamento. Martinho destaca que grande parte dos investimentos vem do apoio público da Prefeitura de Saquarema, através da Lei de Incentivo ao Esporte do governo estadual. “Além disso, buscamos sempre trabalhar com comerciantes e fornecedores locais, promovendo a economia da cidade durante o evento”, completa.
Estrutura da Barrinha e preservação ambiental
Em relação à estrutura da Barrinha, que poderia, em teoria, servir como uma alternativa em dias sem ondas na praia de Itaúna, Martinho menciona que a instalação de uma nova estrutura representaria um impacto ambiental significativo. “Queremos manter o privilégio de todo o movimento em Itaúna, onde a grande maioria das atrações acontece”, afirma, ressaltando a importância das decisões sustentáveis na operação da WSL.
A seleção de marcas patrocinadoras
Sobre a escolha das marcas que patrocinam a etapa, o presidente da WSL menciona um criterioso processo de seleção. “Buscamos marcas que valorizem o esporte e que se alinhem com nossos princípios de sustentabilidade. Não aceitamos patrocinadores do setor de óleo e gás, por exemplo, porque acreditamos que isso contradiz nossos valores”, explica Martinho. Esta filosofia, segundo ele, pode limitar as opções de financiamento, mas reafirma o compromisso da WSL com a preservação ambiental.
Fomento ao surfe na América do Sul
Martinho também aborda os esforços da WSL para expandir o surfe por outros países da América do Sul. A organização já possui etapas do QS (Qualifying Series) em países como Peru, Argentina, Chile, Equador e Uruguai. “Queremos desenvolver o esporte em toda a região e criar ídolos locais. Recentemente, também começamos a transmitir os eventos em português, inglês e espanhol, ampliando nosso alcance e audiência”, detalha. Esta estratégia visa aumentar a diversidade e a inclusão no tour da WSL, promovendo o surfe entre diferentes culturas e comunidades.
Ivan Martinho, que se considera um “surfista esforçado”, demonstra um grande entusiasmo e dedicação ao crescimento do surfe na América Latina. Embora enfrente desafios, seu compromisso com a diversidade, sustentabilidade e com o desenvolvimento do esporte permanece firme, criando um futuro promissor para a WSL na região.