Nessa semana, a coleção masculina da Prada, apresentada na Fundação Prada em Milão, chamou atenção não apenas pelos looks, mas por um detalhe cultural controverso: os sapatos conhecidos como kolhapuris, tradicionais da Índia, foram exibidos como “toe ring sandals” por mais de $1000. A surpresa veio acompanhada de questionamentos sobre o reconhecimento às origens dessas peças.
Quando o fashionismo encara a cultura indiana
O desfile de moda da Prada apresentou sandálias minimalistas, de couro e tiras em cima do pé, que lembram fortemente os kolhapuris. Enquanto o mundo da moda celebra a criatividade e a inspiração, uma corrente de críticos e internautas indianos se manifestou contra a apropriação cultural, ressaltando que essas sandálias têm uma história ancestral de artesãos em Maharashtra e Karnataka, produzidas manualmente há gerações.
Segundo especialistas, o processo de fabricação do kolhapuri pode levar até duas semanas e envolve técnicas tradicionais de costura com couro de búfalo secado ao sol, sem uso de cola ou materiais sintéticos. Essas peças receberam uma indicação de origem (GI) em 2019, reforçando sua autenticidade e valor cultural.
O desgaste da originalidade e a questão do crédito
Embora a Prada não tenha explicitamente chamado as sandálias de kolhapuris, o fato de não reconhecer a origem ou citar suas raízes na cultura indígena gera uma questão ética. Muitas reações no Instagram pediram mais respeito à cultura local, lembrando que esses produtos tradicionais têm uma história de valorização e resistência.
“Quando uma marca de luxo pega algo tão representativo de uma cultura sem dar crédito, isso é apropriação”, declarou Anaita Shroff Adajania, stylist indiana, em sua rede social. Para ela, é importante que o mundo da moda aprenda a reconhecer suas fontes.
Reparar a injustiça cultural na moda global
O fenômeno não é exclusivo da Prada. Diversas marcas já reproduziram elementos culturais de comunidades tradicionais, como dupattas, lehengas ou acessórios, muitas vezes apelidando-os de formas estrangeiras, sem reconhecer a origem autêntica.
Especialistas afirmam que isso reflete uma falta de responsabilidade ao explorar culturas, ao tratar suas manifestações como simples “inspiração”. “Se as comunidades e artesãos não forem devidamente reconhecidos, o impacto é de banalização, invisibilidade e perda de significado”, explica Maria Silva, antropóloga especializada em moda e cultura.
O que podemos esperar na moda consciente
Para um futuro mais ético, é fundamental que marcas internacionais estabeleçam diálogos autênticos com comunidades indígenas e tradicionais, atribuindo créditos e valorizando o trabalho artesanal. Como aponta o movimento global de moda sustentável, o respeito cultural não é opcional, mas uma responsabilidade de todos os players do setor.
Enquanto isso, o convite fica: ao admirar uma peça que lembra a cultura local, lembremos de reconhecer quem a criou. Afinal, o respeito às raízes é a verdadeira medida de uma moda consciente e verdadeira.
Para mais, leia sobre a importância do reconhecimento cultural na moda aqui.