Durante uma audiência na subcomissão de saúde da Câmara, o secretário de saúde Robert F. Kennedy Jr. sugeriu que todos os americanos usem dispositivos de monitoramento de saúde, como smartwatches, anéis inteligentes e monitores de glicose, para “controlar” sua saúde e assumir responsabilidade por ela. A proposta, embora ainda não mandatória, gerou preocupação entre especialistas em segurança.
Riscos à privacidade e à segurança dos dados de saúde
Os dispositivos vestíveis podem monitorar frequência cardíaca, ciclo menstrual, níveis de glicose e padrões de sono, além de registrar localização e contatos. Apesar dos benefícios, eles armazenam uma quantidade enorme de dados pessoais, levantando questões sobre a proteção dessas informações, especialmente frente às vulnerabilidades e histórico de violações de segurança.
Alex Hamerstone, diretor de soluções de consultoria da TrustedSec, explicou que, embora o governo ainda não tenha decidido coletar esses dados, ele já possui acesso a informações sensíveis de cidadãos por meio de programas como Medicare e Medicaid. “Não há indicações de que o governo planeja acessar os dados de wearables, mas a combinação de diferentes fontes aumenta os riscos de vazamentos e uso indevido”, afirmou.
Valorização e vulnerabilidade dos dados de saúde
Para Hamerstone, os dados de saúde possuem valor diferenciado em comparação a outros tipos de informações pessoais, podendo afetar questões como seguros, crédito e privacidade. “Se alguém obtiver acesso a níveis elevados de informações, como glicemia ou irregularidades cardíacas, isso pode impactar direitos e oportunidades das pessoas”, enfatizou.
Preocupações com a proteção e os ataques cibernéticos
Kevin Johnson, CEO da Secure Ideas, alertou que dispositivos usados para monitoramento de saúde apresentam vulnerabilidades, como exemplos de falhas de segurança envolvendo aplicativos de fitness e bases militares. “As vulnerabilidades em hardware, software e conexões sem fio podem facilitar ataques que expõem informações além dos dados de saúde”, afirmou.
Johnson também destacou que muitas empresas vendem ou compartilham esses dados, mesmo sem o consentimento explícito, o que aumenta o risco de violações e usos indevidos por parte de terceiros, incluindo agências governamentais.
Proteção e controle para usuários
Especialistas recomendam que os usuários configurem cuidadosamente as opções de privacidade em seus dispositivos, além de questionar a segurança das empresas responsáveis por esses produtos. “Controlar quem tem acesso aos dados e como eles são usados é fundamental, mas as limitações pessoais permanecem muitas vezes nas mãos das fabricantes”, disse Chronister, CEO da Parameter Security.
Ele alertou que, mesmo com boas práticas, o armazenamento e compartilhamento de dados de saúde continuam vulneráveis a brechas, além de poderem ser utilizados por softwares de inteligência artificial para criar perfis detalhados de saúde e comportamento, influenciando decisões de crédito e seguros.
Complexidades do uso massivo de wearables
O consenso entre especialistas é de que, apesar de os dispositivos serem úteis, seus riscos à privacidade e à segurança demandam atenção redobrada. É importante que os consumidores entendam que esses dados, além de não terem proteção equivalente às informações médicas cobertas pelo HIPAA, podem ser vendidos, compartilhados ou expostos em violações.
Para se proteger, recomenda-se que os usuários revisem regularmente as configurações de privacidade, desativem funcionalidades desnecessárias e tenham consciência de que o controle total sobre os dados é limitado. Além disso, é fundamental que o governo e as empresas adotem medidas robustas de segurança para evitar possíveis vazamentos.
Perspectivas futuras e o debate sobre privacidade
Embora a proposta de RFK Jr. ainda seja uma sugestão e não uma imposição, ela reacendeu o debate sobre o uso ético e seguro de tecnologias de monitoramento de saúde. Especialistas alertam que a coleta massiva de informações pode abrir precedentes perigosos, especialmente se combinada com avanços em inteligência artificial e análises preditivas, que podem impactar direitos civis e a privacidade individual a longo prazo.
À medida que a discussão avança, é essencial promover a transparência nas ações do governo e das empresas, além de fortalecer regulamentos que protejam os cidadãos dessas novas vulnerabilidades.