Entre 2020 e 2023, a maioria das empresas brasileiras do setor de alimentos, agronegócio e comércio varejista investiu de forma limitada na promoção da segurança alimentar, com escassa transparência e foco em ações pontuais. O levantamento, realizado pelo Instituto Pensi, evidencia desafios na atuação empresarial para combater a insegurança alimentar no país.
Baixa aderência às metas de desenvolvimento sustentável
De acordo com o estudo, apenas 98 das 150 maiores empresas, segundo ranking do Valor Econômico de 2023, realizaram ações relacionadas ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 2, que visa erradicar a fome e promover a agricultura sustentável até 2030. Essas ações totalizaram 681 iniciativas, muitas voltadas a ações de impacto reduzido e com objetivos principalmente de imagem.
Iniciativas majoritariamente de pequena escala
Mais de 69% das ações foram classificadas como projetos — ações pontuais, de curto prazo e com foco publicitário, como doações de alimentos. Apenas 17% eram programas estruturados, de maior abrangência e com planejamento de médio a longo prazo. Além disso, cerca de 15% das ações responderam a emergências como a pandemia de covid-19 ou desastres naturais.
Foco na ponta da cadeia alimentar e omissão nas etapas críticas
Embora grande parte das iniciativas (53,3%) tenha ocorrido nos elos de produção e consumo, etapas essenciais para o combate à insegurança alimentar, etapas intermediárias como transporte, armazenamento e processamento apresentaram ações extremamente limitadas, prejudicando o fortalecimento de uma cadeia completa, capaz de evitar perdas e garantir o acesso contínuo aos alimentos.
Baixo investimento na estruturação de organizações e nos grupos vulneráveis
Os dados indicam que as empresas priorizam ações de impacto momentâneo, como doação de alimentos, e deixam de investir na manutenção e fortalecimento de organizações civis que atuam na linha de frente da segurança alimentar — somente 3,96% das ações ofereceram apoio financeiro ou técnico às OSCs. Além disso, menos de 20% das ações tiveram foco em populações mais vulneráveis, como indígenas, comunidades tradicionais ou pessoas em situação de rua, concentrando as ações principalmente nas regiões Sudeste e Sul.
Transparência e monitoramento insuficientes prejudicam avaliação de resultados
O estudo apontou que muitas empresas têm baixa regularidade na publicação de relatórios de sustentabilidade e ações sociais, dificultando a análise de impacto real dessas iniciativas. A ausência de métricas claras, auditorias independentes e mecanismos de avaliação reforça a dificuldade de comprovar eficácia e de evitar práticas de greenwashing e social washing, caracterizadas por ações meramente cosméticas.
Desafios e caminhos para ações mais efetivas
Para ampliar o impacto, é fundamental superar a lógica de ações pontuais e emergenciais, adotando compromissos de continuidade, escala e transformação estrutural. Investimentos na capacitação de organizações locais, maior prioridade às regiões Norte e Nordeste, além da integração de toda a cadeia de produção, transporte e distribuição, destacam-se como estratégias essenciais para fortalecer a segurança alimentar no Brasil.
Especialistas reforçam a importância de uma maior transparência das empresas e de uma atuação mais responsável, alinhada às responsabilidades sociais e ambientais. Segundo o relatório, avanços podem ser alcançados com maior compromisso dos setores empresarial e público na promoção de políticas sustentáveis, bem como na divulgação de informações completas, autônomas e verificadas sobre seus esforços.
Para ler o estudo completo, acesse o site do Laboratório de Filantropia – Pensi Social.