No início de maio, um grupo de manifestantes, em meio a gritos de “Livre, livre Palestina!” na Biblioteca Butler da Universidade Columbia, foi cercado pela segurança do campus. O que começou como protesto se transformou em um tumulto quando as portas do local foram fechadas, resultando em 80 prisões, das quais 61 eram mulheres. Embora o ato tenha gerado repercussão na mídia dos Estados Unidos, o desequilíbrio de gênero entre os participantes passou em grande parte despercebido. Este fenômeno não é isolado; ao contrário, revela uma tendência crescente de jovens mulheres se engajando em ativismo radical.
A mudança no ativismo progressista
A super-representação de mulheres em movimentos progressistas, sejam eles relacionados à Gaza, mudanças climáticas, ou outras causas sociais, se tornou uma norma. Um estudo realizado em 2020 sobre o movimento Extinction Rebellion no Reino Unido destacou a “cultura de protesto altamente feminilizada”. Pesquisas mostram que cerca de 60% dos participantes de manifestações climáticas em várias cidades do mundo são mulheres. Movimentos como Black Lives Matter e os acampamentos em apoio à Palestina também têm suas raízes em iniciativas lideradas por mulheres, mostrando uma clara inclinação à esquerda entre as jovens.
Dados do Financial Times indicam que essa transformação é um fenômeno global. Em países como Coreia do Sul, Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido, mulheres da Geração Z se moveram em direção a posições políticas “hiper-progressistas”, enquanto seus pares masculinos permaneceram estáveis ou se inclinaram para a direita. Nos Estados Unidos, mulheres entre 18 e 30 anos são agora 30 pontos percentuais “mais liberais” do que os homens.
O silêncio sobre a radicalização feminina
A sociedade está cada vez mais consciente de como jovens homens podem ser atraídos para extremismos de direita, mas raramente se discute a radicalização de mulheres. A falta de atenção ao envolvimento feminino em subculturas políticas radicais é problemática, pois radicalização—definida como um compromisso rígido com uma causa ideológica—não é uma experiência exclusiva do gênero masculino.
É importante notar que a participação política em si não é uma preocupação. O engajamento de jovens mulheres em protestos climáticos ou marchas do BLM não indica automaticamente extremismo. No entanto, se considerarmos o engajamento político como um espectro, a extremidade mais radical não é inofensiva.
Ativismo radical e suas consequências
A escalada nas táticas de ativismo climático exemplifica essa tendência. Recentemente, membros do grupo de ação britânico Just Stop Oil foram presos por ações que causaram interrupções significativas, incluindo ferimentos a policiais e bloqueios de tráfego em vias principais. Atos de vandalismo contra obras de arte também foram comuns. Tais comportamentos, embora frequentemente minimizados para mulheres, envolvem riscos reais para o público e para os próprios ativistas.
Casos de protestos extremos no contexto australiano incluem uma jovem que cimentou o braço a um carro e outra que se prendeu ao volante durante horas de pico, evidenciando uma crescente disposição para ações arriscadas entre ativistas femininas.
O papel das redes sociais e da pressão de grupo
Um fator exacerbante neste fenômeno é o papel das redes sociais, que muitas vezes intensificam a coerção entre grupos femininos, levando a uma conformidade ideológica superficial. O ambiente online serve para amplificar a pressão social, forçando muitas mulheres a adotar posturas e narrativas que talvez não aprovem apenas para manter a aceitação do grupo. Isso resulta em um sistema frágil sustentado mais pelo medo do que por convicção genuína.
A teoria das fundações morais evidencia que as mulheres estão mais sintonizadas com questões de cuidado, justiça e pureza, tornando-as mais vulneráveis a narrativas políticas que exploram traumas e injustiças. Esta vulnerabilidade não é apenas uma questão individual; ela tem implicações maiores para a coesão social e a confiança nas instituições.
Implicações mais amplas e o caminho adiante
A radicalização entre mulheres, embora menos visível ou discutida do que os vínculos masculinos com a violência política, é real e necessita de uma compreensão mais profunda. Reconhecer e investigar esses padrões pode ser o primeiro passo para proteger as jovens dos discursos que exploram sua sensibilidade moral. Existe uma necessidade urgente de estudos que abordem a radicalização feminina de forma abrangente, levando em consideração a psicologia evolutiva e as dinâmicas sociais.
É vital que a sociedade comece a nomear e compreender essas tendências, não apenas para criar um ambiente mais seguro para jovens mulheres, mas também para promover um ativismo saudável que não se deixe levar pela radicalização.