Uma pesquisa publicada na revista American Journal of Public Health revela que a proibição quase total do aborto em diversos estados dos Estados Unidos aumentou significativamente a incidência de abortos no segundo trimestre de gestação. Os dados mostram que a proporção de abortos após 13 semanas subiu de 8% antes do endurecimento das leis para 17% após a implementação das restrições.
Impacto das restrições na realização de abortos
Segundo Diana Greene Foster, professora da Universidade da Califórnia, San Francisco e autora principal do estudo, o aumento nas abortos de segundo trimestre não foi o objetivo das leis, mas um efeito não intencional. “O aumento do ônus logístico faz com que o atraso seja inevitável, levando as pessoas a viajarem mais longe e a se exporem a maiores riscos de saúde”, afirmou Foster.
O levantamento envolveu cerca de 855 residentes de 14 estados que adotaram leis restritivas ao aborto, incluindo Texas, Missouri e Mississippi. Os pesquisadores acompanharam pacientes antes e após as mudanças na legislação, além de coletar dados de clínicas e centros de atendimento através de chamadas telefônicas.
Aumento de obstáculos para o acesso ao procedimento
O estudo mostrou que a média de tempo para realizar um aborto passou de 2,8 horas antes das restrições para 11,3 horas após a implementação das leis restritivas. Os custos também praticamente dobrou, passando de R$ 179 para R$ 372, além de um salto no número de pessoas que precisaram passar a noite fora de casa para concluir o procedimento, de 5% para 58%.
Adaptação e deslocamento para outros estados
Apesar das dificuldades, a maioria das pessoas ainda conseguiu realizar o aborto. Cerca de 81% das mulheres que procuraram ajuda após as restrições disseram ter viajado para outros estados, buscando o procedimento. A pesquisa indica que somente uma pequena parcela (3% a 11%) levou a gravidez até o período do parto.
Consequências para a saúde e o bem-estar
Especialistas alertam que o aumento no número de abortos tardios pode trazer riscos adicionais à saúde das mulheres, uma vez que procedimentos realizados após o primeiro trimestre envolvem maior complexidade e perigo. “Restringir o acesso não impede a gravidez, mas aumenta o risco de complicações”, destaca Foster.
O estudo reforça o impacto negativo das leis restritivas, que além de dificultar o acesso ao procedimento, podem gerar um efeito contrário ao pretendido pelos legisladores — o de reduzir o número de abortos, mas, na prática, elevando a proporção de procedimentos tardios.
Perspectivas futuras
Especialistas defendem que a revogação ou flexibilização dessas restrições poderia reduzir o número de abortos tardios, beneficiando a saúde pública. A discussão sobre o tema continua sendo centro de debates políticos e sociais nos Estados Unidos e no mundo todo.