No dia 20 de junho, eu e meu marido comemorávamos nosso primeiro aniversário de casamento, usando pins de Zohran Mamdani em camisetas, enquanto fomos às ruas apoiar um candidato que, até então, muitos consideravam improvável de vencer na primária democrata de Nova York. Naquele momento, tínhamos nossas dúvidas, mas acreditávamos nele. E, na noite seguinte, Mamdani conquistou uma vitória decisiva, surpreendendo muitos.
Construindo a campanha do zero
Apesar de minha formação em ciências políticas com foco em economia, nunca tinha participado de uma campanha política antes. Parte disso se devia à minha condição de imigrante, que até recentemente me impedia de atuar dessa forma nos EUA. Mas, o que começou como uma simples caminhada de voluntária virou uma mobilização gigantesca: mais de 50.000 voluntários, mais de um milhão de portas batidas, uma verdadeira onda de engajamento comunitário. Foi uma experiência de aprendizado, de conexão com pessoas de diferentes backgrounds, e que mostrou a força do movimento grassroots.
Clareza na mensagem e propostas econômicas
O que mais impactou foi a clareza do discurso de Mamdani: “Tornar Nova York acessível a todos”. Durante sua campanha, milhares de voluntários repetiam palavras de ordem como “transporte rápido e gratuito” e “congelamento do aluguel”. Sua mensagem populista, focada na economia e na justiça social, tocou uma dor antiga da cidade.
Pontos-chave do seu programa
Entre suas propostas estão creches universais — algo já implementado em estados como Novo México —, transporte público gratuito e controle de custos de moradia. Essas políticas prometem transformar a vida de milhões de nycans, principalmente os mais vulneráveis, que lutam para sobreviver na cidade mais rica do país.
Financiamento e autenticidade
Outro fator que me convenceu a participar foi ver como Mamdani levantou fundos principalmente de doadores comuns, pessoas comuns, ao contrário de políticos tradicionais como Andrew Cuomo, que conta com milhões de dólares de super PACs financiados por interesses diversos, incluindo doadores ligados ao Trump. Mamdani mostrou que é possível financiar uma campanha confiável, sem precisar vender a alma para os ricos.
Contra a corrupção e a má fama de Cuomo
Como sobrevivente de assédio sexual, ainda me revolta ver Cuomo concorrendo novamente após sua saída escandalosa do governo, marcada por acusações graves e sua eventual renúncia. Como posso confiar na liderança de um homem que manchou sua trajetória com essas alegações? O fato de Mamdani, um socialista democrático, estar à frente reforça a esperança de uma política mais ética e comprometida com os direitos das minorias.
Ideologia sem medo de riscos
Outro aspecto importante é que Mamdani venceu mantendo sua linha ideológica, sem descaracterizar suas posições por medo de críticas. Ele é defensor de um socialismo democrático, apoia duramente os direitos de palestinos, anunciou bilhões em investimentos na saúde trans e conquistou uma parcela jovem que, até então, parecia apática. Isso mostra que políticas corajosas podem sim conquistar votos em uma cidade como Nova York.
Perspectivas para o futuro
Ainda há desafios pela frente, e o período que antecede a eleição será decisivo. Digo com esperança que, se Mamdani avançar para a prefeitura, enfrentará resistência, mas também possibilidades de transformação. É inegável que sua vitória marca uma mudança de paradigma na política local e uma lição importante para os democratas: é preciso ouvir os eleitores, escutar suas demandas populares e não se acomodar em alianças tradicionais que já se mostraram falhas.
Esperamos que o partido aprenda que propostas reais, transparência na arrecadação e uma comunicação autêntica podem força-jetar candidatos de fora do establishment para a vitória. E, acima de tudo, que a política seja feita de esperança, coragem e compromisso com o povo.
Enquanto o futuro se desenha, continuarei acompanhando de perto este momento histórico. Afinal, Nova York pode mostrar ao Brasil e ao mundo que mudanças profundas começam no grassroots, com pessoas comuns e ideias ousadas.
