A livraria Booksmith, localizada em San Francisco, fez uma declaração polêmica recentemente, anunciando que não venderá mais livros da autora J.K. Rowling, incluindo a famosa série “Harry Potter”. Essa decisão veio em resposta às opiniões da autora a respeito de questões trans, que têm gerado intensos debates e polêmicas nos últimos anos.
Motivos da decisão da livraria
A Booksmith, que está em funcionamento desde 1976 no bairro Haight-Ashbury, afirmou que a gota d’água foi a recente declaração de Rowling em que ela anunciou que usaria sua fortuna pessoal para financiar o J.K. Rowling Women’s Fund. Este fundo descreve-se como um apoio legal a “indivíduos e organizações que lutam para preservar os direitos de gênero das mulheres no trabalho, na vida pública e em espaços femininos protegidos”. Embora o fundo não mencione explicitamente pessoas trans, a autora tem sido criticada por se opor à inclusão de mulheres trans em espaços destinados a mulheres.
Em uma postagem no Instagram, a Booksmith declarou: “Com este anúncio, decidimos parar de vender seus livros. Não sabemos exatamente o que esse novo ‘fundo das mulheres’ implicará, mas sabemos que não queremos fazer parte disso. Como um grupo de amantes de livros queer, também tivemos nossas adolescências moldadas por bruxos e elfos. Se você ou alguém que você ama quer explorar o mundo de Harry Potter, sugerimos que compre cópias usadas desses livros.”
A reação do público e o debate ético
A decisão gerou reações diversas. Alguns clientes apoiaram a livraria, enquanto outros expressaram desapontamento e frustração. Um comentarista, em resposta à decisão, fez um apelo sobre a escolha da livraria em não vender livros de autores com os quais eles não concordam politicamente, sugerindo que a livraria está restringindo o acesso à literatura por motivos políticos. A Booksmith respondeu enfatizando que não é uma questão de política, mas sim de oposição a um fundo que discrimina as pessoas trans.
“Existem muitos livros que carregamos que não ‘concordamos’ politicamente, mas neste caso, não é política. Quando a autora de um livro afirma que todas as vendas desses livros contribuirão para um fundo anti-trans, a única maneira de não participar é parar de vender os livros”, declarou a livraria.
A trajetória polêmica de J.K. Rowling
J.K. Rowling tem enfrentado críticas desde 2019, quando expressou apoio a uma pesquisadora britânica que perdeu o emprego devido a postagens nas redes sociais consideradas transfóbicas. Desde então, a autora tem aprofundado suas críticas às políticas relacionadas às pessoas trans. Em 2020, publicou um extenso texto defendendo suas opiniões e expressando preocupações sobre a segurança de mulheres cis e pessoas trans. Ela afirmou que deseja a segurança das mulheres trans, mas não à custa da segurança das mulheres cis.
Estudos recentes têm demonstrado que políticas inclusivas para pessoas trans, inclusive em banheiros, não aumentam os riscos de segurança, desafiando assim as alegações de Rowling. Desde então, suas opiniões tornaram-se mais extremas, levando-a a referir-se a mulheres trans como homens nas redes sociais e propagar informações enganosas sobre figuras reconhecidas na comunidade olímpica.
Impacto e alternativas para os leitores
Além de interromper as vendas, a Booksmith também disponibilizou em seu site uma lista de livros de fantasia semelhantes à série de “Harry Potter” para leitores que buscam alternativas. Essa abordagem tem gerado um debate sobre o papel das livrarias na curadoria de obras literárias e se essas decisões devem ser guiadas por considerações éticas e sociais.
Enquanto alguns comentadores e clientes manifestaram apoio à decisão, outros mostraram descontentamento, preocupados com a gestão da liberdade de escolha em leituras. A livraria insistiu na importância de apoiar a comunidade local e incentivou os leitores a comprarem livros usados, onde o dinheiro permanece em sua comunidade.
A situação com J.K. Rowling e a resposta da Booksmith sublinham o desafiante equilíbrio entre ética e comércio no mundo literário contemporâneo, refletindo um cenário onde as opiniões pessoais dos autores podem impactar significativamente o mercado e as decisões das livrarias.
Por enquanto, a Booksmith não respondeu a solicitações adicionais de comentários, mas a discussão sobre a venda de livros e a responsabilidade social das instituições culturais segue em andamento.