Na última quinta-feira (26), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apresentou um documento abrangente que compila todas as iniciativas implementadas pelos países-membros do Brics desde sua fundação em 2009. O material reúne mais de 180 mecanismos de cooperação, com o objetivo de fortalecer a governança e servir de referência para futuros integrantes do bloco.
A apresentação do documento ocorreu durante o segundo dia do 17º Fórum Acadêmico do Brics (Fabrics), realizado nos dias 25 e 26 de outubro na sede do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), em Brasília. Este fórum é um espaço de intercâmbio de ideias e experiências entre pesquisadores e especialistas de diversas áreas, refletindo sobre o papel do Brics na cena global.
Documentos e portfólio do Brics
Segundo Walter Desiderá, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, “o portfólio traz uma documentação das atividades e resultados propostos pelo Brics e se propõe como referência para adesão de novos participantes do bloco”. O documento apresenta um histórico dos mecanismos que tiveram resultados significativos e, principalmente, o engajamento dos países participantes, tornando-se uma base sólida para futuras colaborações.
A presidenta do Ipea, Luciana Santos Servo, destacou a importância simbólica da entrega do documento. “Essa documentação continuará em desenvolvimento, servindo como uma base de dados dos mecanismos propostos e implementados”, afirmou, ressaltando a necessidade de fortalecer a cooperação entre os países do Brics.
Debates no Fabrics abordaram temas relevantes
O Fabrics promoveu um rico ciclo de debates sob a presidência brasileira do Brics, contando com a participação de representantes de think tanks de nove países. As discussões foram organizadas em torno de seis eixos prioritários: saúde global, inteligência artificial, mudanças climáticas, comércio e finanças, reforma da governança internacional e desenvolvimento institucional.
Um dos temas em destaque foi o de mudanças climáticas, que abordou os impactos desproporcionais nos países em desenvolvimento, especialmente na África Subsaariana. O conceito de justiça climática e as desigualdades regionais foram amplamente debatidos, assim como as recomendações conjuntas visando a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), prevista para novembro em Belém.
Mulugeta Getu, pesquisador-líder da Etiópia, ressaltou o enorme desafio de investimento que os países enfrentam, propondo a implementação de projetos sustentáveis financiados pelo New Development Bank (NDB). Ele também destacou a importância de desenvolver plataformas para compartilhamento de informações e tecnologias entre os países do Brics.
Reformas e segurança internacional em pauta
Outro tópico de grande relevância, especialmente à luz dos recentes conflitos no Oriente Médio, foi a arquitetura de segurança. Os participantes defenderam que o sistema multilateral, principalmente o Conselho de Segurança da ONU, precisa ser reformado e fortalecido, priorizando as vozes do Sul Global. Rodrigo Morais, também técnico do Ipea, comentou sobre a necessidade de uma manutenção da paz e um pacto de não agressão entre os membros do Brics, destacando que a cooperação é crucial para fortalecer as instituições multilaterais.
Para além das discussões teóricas, a professora Nirmala Gopal, da Universidade de KwaZulu-Natal, enfatizou que é preciso transitar do debate retórico para ações concretas que realmente fortaleçam as instituições internacionais. A recente expansão do Brics, com a inclusão de seis novos países-membros em 2024, trouxe um novo ânimo às discussões. Os novos membros incluem Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã.
Desafios para ampliação da cooperação
No entanto, os debatedores reconheceram que a expansão também traz desafios relacionados à ampliação dos mecanismos de cooperação. Criação de modelos institucionais mais claros, estruturas de monitoramento de resultados e até a proposta de um escritório permanente do grupo foram algumas sugestões apresentadas durante o fórum.
“Sem cooperação estratégica, fica muito difícil o desenvolvimento institucional. Para isso, é preciso se organizar, definir as escolhas para entender qual o futuro pretendido, como fortalecer a unidade do bloco, avaliar possíveis reformas e ter uma visão clara das questões mais críticas entre os países participantes”, concluiu Haimanot Guangul, pesquisador sênior e ponto focal do Brics no Institute of Foreign Affairs da Etiópia.
O evento se mostrou uma oportunidade valiosa para discutir os caminhos do Brics e reforçar a importância da colaboração entre os países em um mundo cada vez mais interconectado e desafiador.