Brasil, 25 de junho de 2025
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Reação de uma trabalhadora do sexo ao filme “Anora”: uma visão realista e crítica

Um olhar crítico de uma profissional do sexo revela que o filme “Anora”, dirigido por Sean Baker e estrelado por Mikey Madison, provoca emoções fortes e questionamentos sobre sua fidelidade à realidade. Enquanto o filme é um sucesso de crítica e premiações, a experiência de quem vive essa rotina mostra nuances muitas vezes ignoradas na película.

Reconhecimento da rotina, mas críticas às representações

Emma*, 25 anos, trabalha como acompanhante e bailarina há dois anos em um clube de Manhattan. Ela comenta que muitas cenas iniciais do filme parecem próximas da sua rotina, especialmente o ambiente do clube. “Quando assisti às primeiras cenas, achei que fosse real porque parecia exatamente o que vivencio no trabalho”, afirma.

No entanto, Emma destaca que a personagem Ani, interpretada por Madison, apresenta comportamentos que ela considera questionáveis. “A cena em que ela pergunta se Vanya quer fazer sexo de novo, mesmo já tendo recebido pagamento, é algo que nunca aconteceria com as meninas da minha turma”, explica. Segundo ela, a ética de não avançar além do que foi combinado é uma regra comum no mundo real.

Reação à narrativa do amor e dependência financeira

Emma se incomodou especialmente com a cena em que Ani, após se casar com Vanya, passa a se apresentar como uma pessoa extremamente sexual. Para ela, isso reforça um clichê de fantasia masculina. “Na minha experiência, quando estamos com alguém, nossa persona sexy é só durante o trabalho. Depois que saímos de lá, não queremos ver nada parecido.” Ela também critica a ideia de uma personagem tão experiente acreditar que um cliente irá querer ficar com ela pelo resto da vida, algo que ela considera irreal na sua rotina.

Ela também questiona por que o filme mostra Ani tão apegada a Vanya, como se ela acreditasse na relação real além do dinheiro. “Na minha visão, ela não deveria confiar que ele realmente iria querer ficar com ela para sempre, porque na nossa indústria, sabemos que somos substituíveis. Não existe amor verdadeiro com base apenas na fantasia.”

Percepção sobre romantização e o real impacto do trabalho sexual

Para Emma, a cena final no carro, que retrata a dor emocional da personagem, reforça um estereótipo prejudicial. “Mostrar dor e tristeza não é uma representação verdadeira do que sentimos como trabalhadorxs do sexo. Meu sofrimento vem mais de insegurança financeira e falta de respeito, não da sexualidade em si.”

Ela acredita que o filme reforça a ideia de que o sexo é algo triste e emotivo, quando na verdade, muitas vezes, o que pesa é a marginalidade e a desvalorização social. “As pessoas lucram com esse tipo de narrativa, que vende a ideia de que o trabalho sexual é uma tragédia, mas a verdade é que muitas estamos na profissão para sermos independentes.”

Críticas às dinâmicas de poder e estereótipos

Emma também comenta que as cenas de “maneiras” entre as colegas, especialmente as atitudes de “meninas más”, não condizem com a realidade. “Esses comportamentos não sobrevivem na nossa rotina. O que realmente importa é a inteligência, força e solidariedade entre nós, que me mantêm na profissão mesmo nos momentos difíceis.” Ela reforça que muitas das representações negativas do filme não condizem com a realidade do seu dia a dia.

O que poderia ter sido diferente e o papel da representação realista

Para Emma, o que mais incomoda é a forma como o filme retrata a personagem Ani como ingênua e apaixonada por um homem que ela conheceu na mesma indústria. “Ela acha que Vanya se importa de verdade, mas na minha visão, ela está se iludindo. Essa ideia de uma relação verdadeira começa a desmoronar quando percebemos que é tudo baseado na fachada de sexo e dependência financeira.”

Ela também ressalta que o filme poderia ter sido mais honesto ao mostrar que, na rotina real, a dependência emocional muitas vezes é uma ilusão e que o amor não é a força motriz na maioria dos relacionamentos profissionais nesse universo.

Reflexões finais: o impacto da narrativa hollywoodiana

Emma conclui que muitas dessas produções lucram com o estigma do trabalho sexual, alimentando fantasias masculinas e uma visão distorcida da realidade. “Estamos cansadas de ver o que é considerado uma representação ‘real’ — geralmente triste, emocional e vulnerável — para vender uma narrativa que não é a nossa.”

Ela reforça a importância de uma narrativa mais autêntica e que respeite a diversidade de experiências das trabalhadoras do sexo. “A verdadeira história é de força, independência e inteligência. Não é uma tragédia ou um conto de fadas.”

*Nome fictício para preservar a identidade da entrevistada.

**Meta descrição:** Uma trabalhadora do sexo analisa o filme “Anora” e revela como a realidade muitas vezes difere da representação hollywoodiana, trazendo crítica e reflexão.

**Tags:** cultura, cinema, trabalho sexual, representação, opiniões de profissionais

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