Brasil, 25 de junho de 2025
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Por que parar de chamar imigrantes de “trabalhadores” pode fortalecer o respeito a eles

Estimular uma visão mais completa e digna dos imigrantes envolve reconhecer sua humanidade, não apenas seu esforço econômico.

Enquanto agentes do ICE realizam operações muitas vezes violentas e desrespeitosas contra imigrantes nos Estados Unidos, figuras públicas e políticos têm defendido o apoio aos “imigrantes trabalhadores”. No entanto, especialistas alertam que rotular imigrantes apenas por sua dedicação pode mascarar questões profundas de desigualdade e vulnerabilidade.

A armadilha do elogio simplista

Celebridades como Kim Kardashian e políticos como o republicano David Valadao têm utilizado discursos que destacam o lado “hardworking” dos imigrantes. Kardashian, por exemplo, afirmou que é preciso “saber ouvir” quando pessoas inocentes estão sendo separadas de suas famílias, enquanto Valadao pede que o governo priorize criminosos ao invés de trabalhadores pacíficos.

O risco de reduzir imigrantes à sua produtividade

Para Vanessa Cárdenas, diretora executiva do grupo de defesa dos imigrantes Ameríca’s Voice, essa visão reforça a ideia de que imigrantes devem aceitar trabalhos perigosos e exploradores apenas por seu esforço. “A discussão precisa focar na questão de que esse governo está atacando famílias de forma indiscriminada, prejudicando a vida delas e a saúde das comunidades”, ela afirma.

Segundo dados da USDA, cerca de 40% dos trabalhadores rurais que colhem alimentos nos EUA não possuem autorização de trabalho, muitas vezes trabalhanto em condições precárias e sem acesso a cuidados médicos, como revela um relatório de 2023 da ProPublica. “Os imigrantes já fazem trabalhos essenciais para a economia, mas ainda assim enfrentam riscos e exploração”, lembra Soraya Chemaly, ativista e autora.

Imigrantes, trabalho e invisibilidade social

Michael Lechuga, professor da Universidade do Novo México, destaca que essa visão de imigrantes como “braços” remete ao Programa Bracero, da metade do século XX, que reduzia os migrantes a suas mãos e força física. “Essa narrativa ainda existe, embora esconda a complexidade de suas vidas”, ele explica. Para Lechuga, a defesa de que eles são “trabalhadores árduos” muitas vezes serve para desconsiderar sua difícil situação social.

O impacto de rotular imigrantes apenas por sua força

Lechuga também aponta que, historicamente, essa rotulagem serve para minimizar a responsabilidade do Estado perante suas necessidades de bem-estar. “Ser chamado de ‘hardworking’ pode parecer uma forma de elogiá-los, mas na verdade é uma forma de justificar sua exploração ou de invisibilizar suas dificuldades”, ele avalia.

Respeito e dignidade: além do esforço

Para muitas vozes, o reconhecimento da dignidade dos imigrantes deve ir além do esforço laboral. Soraya Chemaly reforça que a lógica de valor baseada apenas na produtividade reflete racismo, supremacia branca e lógica capitalista que reduz as pessoas a recursos de onde se pode extrair algo.

Outro ponto importante vem da experiência de Lechuga, que cresceu em uma família de imigrantes. Para ele, a palavra “trabalhador” muitas vezes serve como narrativa de aceitação e assimilação social, mas não deve ser usada para negar sua humanidade ou justificar condições de trabalho exploradoras.

Uma nova postura de apoio

Visões mais completas e empáticas demonstram que imigrantes merecem respeito, cuidado e direitos humanos simplesmente por sua existência. Como Kiké Hernández, jogador dos Dodgers de Los Angeles, expressou ao defender a comunidade afetada pelas ações do ICE: “Todos merecem ser tratados com respeito, dignidade e direitos humanos”.

Nessa perspectiva, o importante não é apenas o que os imigrantes fazem, mas quem eles são enquanto pessoas. O reconhecimento de sua humanidade é fundamental para uma sociedade mais justa e inclusiva.

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