À medida que agentes do Immigration and Customs Enforcement (ICE) detêm imigrantes de forma violenta e deportam famílias, apoiadores usam o termo “trabalhadores” para justificar ou defender sua presença nos Estados Unidos. No entanto, especialistas alertam que essa abordagem limita o reconhecimento da humanidade desses indivíduos e ameaça direitos essenciais.
Por que a ênfase no “esforço” dos imigrantes é problemática
Celebridades como Kim Kardashian e políticos como o republicano David Valadao destacaram o esforço dos imigrantes como justificativa ou motivo de defesa. Kardashian, por exemplo, afirmou que “quando testemunhamos pessoas inocentes e trabalhadoras sendo separadas de suas famílias de formas desumanas”, é preciso se posicionar. Já Valadao pediu prioridade na deportação de criminosos, não dos trabalhadores pacíficos.
Embora o esforço e a produtividade sejam qualidades admiráveis, especialistas dizem que usar apenas esses atributos para defender imigrantes é uma visão limitada. Vanessa Cárdenas, diretora executiva do grupo de defesa às imigrações América’s Voice, explica que, na Bolívia, trabalhar com dedicação é algo positivo, mas tratar os imigrantes apenas como “pessoas que fazem os empregos que ninguém quer” reduz sua complexidade e valor humano.
A luta por dignidade além do esforço
Segundo Cárdenas, o foco deveria estar na política que prejudica famílias e comunidades, e não apenas na contribuição econômica dos imigrantes. Eles enfrentam riscos de exploração, acidentes de trabalho e exclusão dos direitos trabalhistas, como mostra o relatório do grupo New American Economy, que aponta que cerca de 40% dos trabalhadores agrícolas imigrantes nos EUA não possuem autorização de trabalho.
Soraya Chemaly, ativista e autora, acrescenta que a ideia de que “imigrantes são apenas trabalhadores esforçados” disfarça uma lógica que reforça racismo, supremacia branca e exploração capitalista, onde o valor do ser humano é reduzido à sua capacidade de produzir.
Histórico e perspectivas da representação do imigrante
Michael Lechuga, professor da Universidade do Novo México, relata que essa narrativa de rotular os imigrantes como “braçais” remonta ao programa Bracero, dos anos 1940 a 1960, que contratava trabalhadores mexicanos em condições precárias. Essa abordagem reduziu a identidade do imigrante ao seu corpo e trabalho, uma mentalidade que ainda persiste. Lechuga lembra que, embora essa percepção seja desumanizadora, também refletia uma tentativa de assimilação, onde o esforço era visto como única forma de ascensão social.
“Reconhecer a humanidade integral dos imigrantes é fundamental”, afirma Lechuga. “Eles merecem respeito e cuidado, independentemente de sua produtividade.”
O exemplo de líderes e personallyers
Luís Hernández, jogador do Los Angeles Dodgers, foi um dos que reforçou essa mensagem ao escrever no Instagram que “todo ser humano merece respeito, dignidade e direitos humanos”, sem qualificações sobre seu esforço ou contribuição econômica. Hernández reforçou que sua cidade, Los Angeles, é sua casa, e que a violência contra a comunidade migrante deve cessar.
Esses exemplos mostram que o reconhecimento da humanidade dos imigrantes vai além de sua suposta produtividade. É uma questão de direitos, respeito e fundamentalmente, de tratar todos com dignidade.
Perspectivas para uma abordagem mais humana
Profissionais e ativistas argumentam que uma postura mais inclusiva é aquela que reconhece os imigrantes por sua condição de seres humanos completos, e não apenas por sua capacidade de trabalho. Essa mudança na narrativa é essencial para combater o racismo estrutural, o sexismo e a exploração que permeiam a política migratória.
Portanto, a verdadeira defesa dos imigrantes passa por reconhecer suas vidas e dignidade, independentemente da sua produtividade. Como destacou Hernández, “todos” merecem respeito, sem qualificações ou condições.