Numa manhã chuvosa de primavera, Jack Brewer observa trabalhadores preparando barcos para mais uma temporada no Long Island Sound. No cenário, embarcações menores e sofisticadas, símbolo do crescimento de um setor que se reinventa com novas demandas de navegadores e investidores globais.
Expansão do mercado de marinas e investimentos
Nos Estados Unidos, o setor de marinas vêm passando por uma verdadeira revolução. Empresas como a Blackstone adquiriram e modernizaram dezenas de propriedades, incluindo a Safe Harbor, que detém 138 marinas e foi vendida por US$ 5,65 bilhões em 2025. Segundo a IBISWorld, cerca de nove mil marinas geram quase US$ 8 bilhões por ano com aluguel de vagas, reparos e serviços diversos.
O rebatimento do setor desde os anos 1960
A história da navegação de luxo na região remonta ao início do século XX, quando barcos de motores impulsionaram o setor. Com a evolução tecnológica, os barcos de fibra de vidro tornaram-se acessíveis à classe média, alimentando um boom e tornando a navegação um símbolo de status entre os ricos. Jack Brewer iniciou sua trajetória na década de 1960, quando o setor ainda tinha um caráter mais modesto e familiar, o que aos poucos mudou com a entrada de grandes empresas de investimento.
Gentrificação e novas tendências
Nos últimos anos, a profissionalização e a busca por exclusividade têm provocado uma espécie de “gentrificação” nas marinas. Empresas como a Safe Harbor e a Suntex passaram a priorizar clientes de alto padrão, investindo milhões para ampliar e melhorar suas estruturas, incluindo heliportos, estações subaquáticas e até campos de minigolfe — como revelou reportagem recente.
Segundo analistas como Anne Eubanks, presidente da associação de navegantes da Costa Oeste, essa modernização muitas vezes expulsa navegadores de menor porte, em uma lógica semelhante à gentrificação urbana. Investidores buscam elevar os preços das vagas, enquanto moradores tradicionais veem seus direitos ameaçados, com aumentos de até 96% no valor do aluguel em alguns casos.
O impacto da tecnologia e novos empreendedores
Empresas como a Dockwa, fundada por Melillo, tentam digitalizar e otimizar a gestão de reservas de marinas, apontando para ineficiências no setor. Contudo, a resistência de moradores e pequenos navegadores cresce, especialmente em regiões onde a valorização imobiliária e os altos custos de manutenção transformam as marinas em símbolos de exclusão social.
Desafios ambientais e sociais
Projetos de expansão enfrentam forte oposição de grupos ambientais e moradores tradicionais. Recentemente, a Safe Harbor precisou ceder às pressões na marina de Martha’s Vineyard, comprometendo-se a investir US$ 48 milhões em melhorias para manter a operação, em troca do direito de administrar a área. Ainda assim, há receios de que a busca por lucros leve à expulsão de navegadores de menor porte e à transformação de marinas em “clubes privados” de luxo.
Perspectivas e próximos passos
O setor de high-end, que já é avaliado em bilhões de dólares, projeta crescimento contínuo, impulsionado pela entrada de investidores internacionais e pela valorização de propriedades. Especialistas alertam, porém, para a necessidade de equilíbrio entre negócios e preservação do uso público destes espaços, principalmente diante da crescente especulação imobiliária marítima.
Como afirma Jack Brewer, fundador de uma das primeiras marinas na costa leste, a manutenção adequada e o bom serviço sempre foram as principais cartas do setor. Agora, o desafio é equilibrar luxo e acessibilidade, garantindo que a experiência náutica continue sendo um bem para todos os brasileiros e turistas internacionais.
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tags: economia, nautica, investimentos, imóveis de luxo, gentrificação