No último encontro no Vaticano com seminaristas de todo o mundo, o Papa Leão XIV destacou a importância da “escola dos afetos”, reafirmando que a educação emocional e espiritual deve ser fundamentada no amor, uma proposta essencial nos tempos atuais. Este artigo, assinado por Pe. Maicon Malacarne, professor de Teologia Moral, convida a refletir sobre o papel dos afetos na formação dos indivíduos.
A importância da escola dos afetos
O Papa Leão XIV, ao se dirigir aos seminaristas, introduziu a ideia da “escola dos afetos” como uma maneira de integrar o amor às relações humanas, tanto em contextos religiosos quanto laicos. Segundo ele, a formação deve fazer parte de um espaço que acolha emoções e sentimentos, fundamentais para a construção de uma consciência madura. O amor é descrito como uma “máquina” que organiza e dá um sentido às relações afetivas, especialmente em uma sociedade cada vez mais acelerada e desconectada.
Reflexões de um poeta
O poeta italiano Giacomo Leopardi, mencionado na reflexão de Pe. Maicon, expressa que a vida sem afetos é comparável a uma “noite sem estrelas no meio do inverno”. Essa visão poética ressalta a necessidade de cultivar afetos em nossas vidas, porque a privação afetiva nos leva à escuridão e isolamento. A proposta é ir além da identificação dos sentimentos; é necessário aprender a organizá-los e direcioná-los, para que não se tornem confusos ou limitadores em nossa experiência.
O papel dos seminários
A celebração do Jubileu dos Seminaristas foi um momento de reflexão profunda sobre a missão deles no mundo atual. O convite do Papa para transformar os seminários em “escolas de afetos” tem um significado amplo. Ele sugere que as instituições religiosas devem se empenhar em proporcionar um ambiente de acolhida, onde o amor e a empatia sejam princípios fundamentais na formação dos futuros líderes da Igreja.
Learning the art of love
O conceito de “aprender a amar” é central para essa visão. O amor, como aprendido nas relações interpessoais, não se limita a conceitos abstratos, mas deve ser praticado através de encontros reais, vínculos afetivos e interações significativas. O exemplo de Abraão e Sara, que receberam e acolheram a visita dos desconhecidos, é um modelo a ser seguido, reforçando a importância da hospitalidade na construção de relações saudáveis e compassivas.
Amor e formação integral
Com o avanço acelerado da tecnologia e a prevalência de interações virtuais, as relações humanas estão em risco de se tornarem superficiais. Nesse cenário, o amor é fundamental para combater o narcisismo e promover o diálogo genuíno. A “escola dos afetos” não pode ser apenas um espaço teórico; precisa ser um local de prática e repetição do amor, onde se constrói não apenas o conhecimento, mas também a experiência humana plena e rica.
A mensagem de Santo Agostinho, citada pelo Papa, que sugere que o amor é o caminho para “retornar ao coração”, serve como um lembrete poderoso da importância de centralizar o amor e os afetos na vida cotidiana. Que essa prática nos lembre de buscar a essência do ser humano, que se manifesta nas relações construídas com carinho, respeito e, acima de tudo, amor.
O papel da formação, seja religiosa ou laica, é não só ensinar conceitos, mas também cultivar um ambiente onde os sentimentos e afetos sejam reconhecidos e valorizados. Essa abordagem não só contribui para a formação de indivíduos mais completos, mas também para a construção de comunidades mais unidas e solidárias.
Por fim, o convite do Papa Leão XIV é um chamado à ação: vamos todos nos esforçar para que as nossas vidas sejam verdadeiras “escolas dos afetos”, onde o amor seja o guia e a força motriz. Assim, não apenas criaremos um mundo melhor, mas também resgataremos a essência do que significa ser humano.
*Pe. Maicon A. Malacarne é professor de Teologia Moral e pároco da Paróquia São Cristóvão – diocese de Erexim/RS.
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