Os católicos da Coreia do Sul marcaram o 75º aniversário do início da Guerra da Coreia, promovendo uma novena de orações e Missas pelo fim das tensões e pela reconciliação na península dividida. As atividades tiveram destaque no domingo anterior ao dia 25 de junho, data do início do conflito em 1950.
Momentos de oração na Catedral de Myeongdong
Mais de 1.000 fiéis participaram de uma missa especial na Catedral de Myeongdong, em Seul, presidida pelo arcebispo Peter Chung Soon-taick, que também atua como administrador apostólico de Pyongyang.
“Vivendo em um estado de divisão, a Coreia do Norte e a Coreia do Sul cultivaram ódio e animosidade, em meio a constantes tensões e confrontos”, afirmou Chung em sua homilia.
Durante um seminário no mesmo dia, ele enfatizou a importância de lembrar e rezar pelos irmãos norte-coreanos e de promover esforços de unidade e reconciliação com base na solidariedade cristã.

A Guerra da Coreia deixou cerca de 3 milhões de mortos, aproximadamente 10% da população do país, entre 1950 e 1953. Apesar do fim dos combates com o armistício de 1953, o conflito nunca foi oficialmente encerrado por um tratado de paz, mantendo as duas nações em estado de guerra técnica.
Na Coreia do Sul, fiéis oraram também na novena que antecede a data, mantida como uma lembrança anual na Igreja local, com missas semanais pelo fim do conflito, uma delas celebrada nesta semana, marcando mais de 1.400 cerimônias de oração ao longo dos anos.

Divisão e história da península
Após a Segunda Guerra Mundial, a divisão da Coreia ao longo do paralelo 38 criou duas nações distintas: a República Popular Democrática de Corea, no Norte, sob um regime repressivo, e a Coreia do Sul, que passou por rápida transformação econômica e social, conhecida como o “milagre do rio Han”.
O país do Norte é alvo de acusação de crimes contra a humanidade, incluindo execuções, torturas, abortos forçados e fome em massa, além de intensificar restrições desde 2020, segundo a Human Rights Watch. A Coreia do Sul, por sua vez, viu sua população católica crescer de menos de meio milhão nos anos 1960 para quase 6 milhões atualmente, conforme dados da Conferência dos Bispos Católicos da Coreia.
O bispo Simon Kim Joo-young, presidente do Comitê de Reconciliação da Igreja na Coreia, afirmou que “após 80 anos de divisão, devemos superar conflitos com fé na ressurreição de Cristo”.

Histórico cristão na Coreia do Norte
Antes da guerra, Pyongyang era conhecida como a “Jerusalém do Oriente”, com uma comunidade cristã vibrante. Em 1945, cerca de 50 mil católicos e um número maior de protestantes estavam registrados nas paróquias e igrejas do norte. Com o início do conflito, a maior parte do clero católico foi presa, morta ou desapareceu.
Hoje, o governo comunista norte-coreano controla rigidamente as organizações religiosas, sem clerigos católicos residindo no país. Apesar disso, alguns refugiados conseguiram resgatar sua fé na Coreia do Sul, como mostra a história de Mi Jin, que encontrou na Igreja uma esperança após a perseguição.

Nos últimos anos, as relações entre Norte e Sul se deterioraram. Em janeiro de 2024, Kim Jong Un anunciou o fim da sua política de reunificação pacífica e rotulou a Coreia do Sul como “principal inimigo”.
Em resposta a provocação com balões de lixo, Pyongyang enviou uma última ofensiva de táticas voltadas à retaliação, enquanto a Igreja na Coreia tenta apostar na esperança de que gestos de distensão, como a suspensão de propagandas e troca de mensagens, possam abrir caminho para uma nova fase de diálogo.
“Esta situação é o resultado de conflitos ideológicos acumulados ao longo do tempo, uma verdadeira guerra civil emocional”, afirmou o bispo Kim. Por outro lado, o arcebispo Chung destacou que “uma pequena mas significativa mudança ocorreu neste mês com a suspensão das transmissões de propaganda pelo governo sul-coreano, o que trouxe uma leve melhora na relação entre as duas Coreias.”
Ele também comentou a esperança de que as novas gerações liderem esforços de paz, especialmente com a proximidade do Encontro Mundial da Juventude em Seul, em 2027, defendendo a importância de promover um futuro de esperança na região.