A ação penal envolvendo a trama golpista no Brasil avança em uma nova fase nesta terça-feira, quando duas acareações entre personagens centrais da investigação estão agendadas. O ex-ministro Walter Braga Netto se encontrará com o tenente-coronel Mauro Cid às 10h. Em seguida, o também ex-ministro Anderson Torres irá encarar o ex-comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, às 11h. Esses confrontos foram solicitados pelas defesas de Braga Netto e Torres e têm como principal intuito esclarecer as contradições que surgiram nas declarações destes indivíduos.
Objetivos das acareações e personagens envolvidos
A defesa de Braga Netto identificou duas divergências significativas entre os depoimentos do general e Mauro Cid: a primeira diz respeito a uma reunião que ocorreu na residência de Braga Netto, em novembro de 2022, e a segunda envolve a suposta entrega de dinheiro que o ex-ministro teria feito ao tenente-coronel. Já a acareação entre Torres e Freire Gomes deverá se concentrar na participação do ex-titular da Justiça em reuniões no Palácio da Alvorada, onde Jair Bolsonaro teria apresentado propostas para contestar os resultados das eleições de 2022.
Condições das acareações
As acareações acontecerão em uma sala de audiências reservada do Supremo Tribunal Federal (STF), sob a condução do relator Alexandre de Moraes e com a presença do procurador-geral da República, Paulo Gonet. Esse procedimento está estabelecido no Código de Processo Penal para situações em que há divergências sobre “fatos ou circunstâncias relevantes” entre os relatos de investigados e testemunhas.
Vale destacar que Jair Bolsonaro tem o direito de acompanhar as audiências, segundo informações da coluna de Lauro Jardim. No entanto, sua presença é incerta, uma vez que ele está em tratamento devido a uma pneumonia. Por outro lado, Braga Netto, que se encontra em prisão preventiva no Rio desde dezembro, recebeu autorização para se deslocar a Brasília para participar presencialmente da acareação. Essa será a primeira vez que ele deixará a unidade militar em que está detido, já que nos interrogatórios realizados há duas semanas, ele participou via videoconferência.
Contradições que devem ser exploradas
Durante as acareações, os advogados de Braga Netto planejam explorar uma contradição específica sobre a reunião em sua casa, que contou com a presença de Cid e outros dois militares. O tenente-coronel alegou que os envolvidos na reunião expressaram descontentamento com o resultado eleitoral e a condução do assunto pelas Forças Armadas, embora ele tenha precisado se retirar antes do final. Em contraste, o general da reserva argumentou que se tratou de uma “visita de cortesia” e que Cid permaneceu durante todo o encontro.
Além disso, Cid declarou que um dos outros militares mencionou a necessidade de recursos para financiar a trama golpista e que, portanto, ele buscou ajuda junto a Braga Netto. Após uma tentativa frustrada de conseguir os fundos com o Partido Liberal, Cid afirmou que o dinheiro foi entregue por Braga Netto no Palácio da Alvorada. O tenente-coronel inicialmente alegou que isso ocorreu em uma sacola de vinho, depois mudou sua versão para uma caixa do mesmo produto, enquanto Braga Netto nega ter realizado qualquer entrega.
Envolvimento de Anderson Torres
Anderson Torres, por sua vez, será questionado sobre sua suposta participação em reuniões no Palácio da Alvorada onde foram discutidas medidas excepcionais sob a liderança de Bolsonaro. Freire Gomes, que foi ouvido como testemunha de acusação, declarou que Torres participou de uma ou duas dessas reuniões. Porém, o ex-ministro discorda, afirmando que os registros de entrada do Palácio indicam que ele e o ex-comandante nunca estiveram presentes no mesmo momento.
Outro elemento que deverá ser discutido é um documento encontrado na residência de Torres, que prevê a decretação de um estado de defesa. Freire Gomes, em um depoimento anterior à Polícia Federal, mencionou que o conteúdo deste documento foi abordado em uma das reuniões com Bolsonaro. No entanto, durante seu interrogatório no STF, ele retratou o teor do documento como “semelhante” a outros pontos discutidos.
O que esperar das acareações
As acareações prometem ser um momento crítico na investigação sobre a trama golpista. Os resultados dessas conversas podem influenciar tanto o futuro dos envolvidos quanto os desdobramentos legais que seguirão os eventos em questão. À medida que novas informações são reveladas e as contradições são colocadas à flor da pele, o cenário político no Brasil pode ser profundamente impactado.
Assim, a expectativa é alta em relação a como cada personagem se posicionará durante o confronto e quais novas revelações poderão surgir deste momento decisivo das acareações no STF.