A inteligência artificial (IA) está se tornando um recurso cada vez mais utilizado por criminosos virtuais para criar golpes nas redes sociais, de acordo com um relatório da Agência Lupa, que atua no combate à desinformação. O estudo revela que as táticas de fraudes evoluíram, destacando o uso de deepfakes de figuras públicas, como políticos e jornalistas, para aumentar a credibilidade dos conteúdos fraudulentos e enganar os usuários.
A crescente presença de golpes virtuais
Nos últimos três anos, a Agência Lupa analisou 142 golpes virtuais aplicados em redes sociais. Desses, 31 incorporaram algum tipo de recurso de IA, o que, embora ainda represente uma fração dos fraudes, indica um crescimento alarmante. Em 2023, foram registrados apenas três casos de golpes que usavam inteligência artificial. Contudo, em 2024 esse número subiu para dez, e entre janeiro e maio de 2025, os pesquisadores identificaram 18 novos golpes.
Deepfakes como estratégia enganosa
A pesquisadora Beatriz Farrugia explica que a estratégia preferida dos golpistas é o uso de personalidades conhecidas para criar deepfakes—imagens ou gravações geradas por IA que imitam personalidades públicas, como jornalistas da TV e políticos. O relatório menciona a utilização de deepfakes de figuras como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro, que aparecem em conteúdos fraudulentos com o intuito de transmitir maior credibilidade.
Um exemplo notório é um golpe que usava um deepfake do apresentador William Bonner do Jornal Nacional, promovendo uma falsa promoção de cervejas. O vídeo foi distribuído em um site que se passava pelo portal de notícias G1, levando as vítimas para uma página que imitava o site da Ambev, na qual, para receber um suposto “kit de cervejas”, as pessoas eram solicitadas a preencher um formulário.
Phishing e coleta de dados pessoais
Os golpes frequentemente usam uma abordagem de phishing, conduzindo as vítimas a plataformas falsas onde elas são induzidas a fornecer informações pessoais, como nomes completos, números de documentos e dados bancários. Segundo o relatório, os criminosos utilizam táticas altamente sofisticadas que imitam a identidade visual de empresas e até mesmo das páginas do governo, com o intuito de capturar dados valiosos.
Entre os golpes, muitos prometem a realização de saques fictícios, como o de “dinheiro acumulado no CPF”, abordagens que aumentam ainda mais a vulnerabilidade das pessoas na internet.
Motivações e organizações por trás dos golpes
Os dados da Agência Lupa revelam que a maioria dos golpes se concentra em promessas de promoções, descontos e brindes em marcas conhecidas. Em um cenário preocupante, os pesquisadores indicam que cerca de 77,5% dos golpes analisados mencionavam personalidades ou empresas renomadas, estando em ascensão para 90% em 2025.
A crescente sofisticação desses golpes coloca em evidência um grave problema: a presença de organizações criminosas. O relatório da Interpol, divulgado em 2024, destacou a ligação dessas fraudes com grupos como o Comando Vermelho, o Primeiro Comando da Capital e o Cartel Jalisco Nueva Generación. A pesquisadora Farrugia questiona como os golpistas conseguem financiar anúncios e estabelecer sites de aparência legítima, enfatizando que investigações estão revelando uma organização criminosa por trás de muitos desses crimes.
O impacto da tecnologia na criminalidade
As mudanças tecnológicas, combinadas ao avanço da inteligência artificial e das criptomoedas, têm impulsionado o surgimento de novos métodos de fraudar cidadãos e instituições. A situação apresenta um panorama de crescente complexidade e perigos, se não houver uma ação garantida. Segundo Jürgen Stock, ex-secretário-geral da Interpol, “o desenvolvimento da IA e das criptomoedas, sem uma ação urgente, só vai piorar a situação”.
Em resumo, a inteligência artificial está transformando o cenário dos golpes virtuais, com falsificações cada vez mais realistas, que comprometem a segurança de dados pessoais e financeiros de cidadãos ao redor do mundo. A luta contra essa nova era de fraudes requer não apenas conscientização, mas também um esforço conjunto das autoridades e da sociedade. Conhecer essas práticas é o primeiro passo para se proteger e evitar ser mais uma vítima dos golpistas digitais.