No dia 31 de agosto de 2024, a cidade de Praia Grande (SP) foi abalada por um crime brutal que, inicialmente, parecia um caso de feminicídio, mas que, com o desenrolar dos fatos, revelou-se ainda mais complexo. Igor Peretto, um comerciante de 27 anos, foi encontrado morto a facadas dentro do apartamento de sua irmã, Marcelly Peretto. A situação se tornou ainda mais intrigante à medida que detalhes sobre um triângulo amoroso envolvendo Rafaela, a viúva de Igor, e Mário, o cunhado, surgiram. Um acervo de áudios obtidos pelo g1 relatou o desespero de moradores que, acreditando serem testemunhas de um crime contra uma mulher, fizeram chamadas à Polícia Militar no momento do incidente.
O que revelam os áudios das testemunhas
Os áudios das ligações feitas pelos vizinhos revelaram pânico e urgência. O primeiro aviso à polícia foi feito às 6h18, e a primeira testemunha relatou: “Acabou de subir um rapaz e começou a brigar com a esposa. Ela começou a gritar socorro pela janela.” Essa testemunha ainda acionou o interfone, mas não obteve resposta. Aproximadamente uma hora depois, outra ligação foi feita, desta vez questionando a ausência de atendimento policial e expressando a dúvida se a mulher estaria morta: “Uma gritaria dentro de um apartamento aqui, e do nada parou.”
A terceira ligação, feita às 7h43, destacou a possível gravidade da situação: “A gente está com suspeita de feminicídio. A gente não escuta mais vozes.” O que parecia ser um caso de emergência extrema revelou posteriormente um enredo de traição e crime planejado.
As dinamicas do crime
Igor foi assassinado no apartamento de Marcelly, onde estavam presentes sua irmã, o cunhado Mário e a viúva Rafaela. De acordo com investigações do Ministério Público (MP-SP), o crime foi premeditado, com os três sendo acusados de considerar Igor um “empecilho” para o triângulo amoroso que mantinham entre eles. O MP alega que, antes do crime, Rafaela e Mário estavam envolvidos romanticamente, e Marcelly também havia se relacionado com Rafaela. A dinâmica complexa entre os três é um dos principais focos da investigação.
A linha do tempo do crime
No dia do crime, as evidências mostram que Rafaela e Marcelly chegaram juntas ao apartamento às 4h38. Apenas dois minutos depois, foram vistas rindo e abraçadas. Igor, que havia saído de casa, retornou ao local às 5h43, sendo a última vez que foi visto com vida. Um breve conflito entre ele e Mário foi registrado por câmeras de segurança. Após a discussão, Mário e Marcelly deixaram o prédio juntos, enquanto Igor permanecia em seu trágico destino.
Motivos e implicações jurídicas
O MP-SP argumentou que a morte de Igor traria “vantagem financeira” para os acusados, pois Rafaela poderia herdar seus bens e Mário assumiria a gerência da loja de motos que mantinha em sociedade com Igor. Este aspecto financeiro, junto com a motivação emocional ligada ao “triângulo amoroso”, fundamentou a denúncia de homicídio qualificado. A promotora Roberta destacou que o crime foi “chocante e violento”, pois os implicados não tentaram ajudar Igor ou minimizar seu sofrimento após o ataque.
As prisões de Rafaela e Marcelly ocorreram dias após o crime, enquanto Mário foi detido após ser encontrado escondido. A situação legal do trio permanece em desenvolvimento, com desdobramentos aguardando decisões judiciais quanto a um possível júri popular.
Defesas e reações dos envolvidos
As defesas dos acusados têm disputado a narrativa apresentada pelo MP, ressaltando que algumas alegações sobre a natureza das relações entre os réus não são verdadeiras. Os advogados solicitam a revisão de provas e a restituição de celulares apreendidos, enquanto buscam a revogação das prisões, alegando que não há mais necessidades para a detenção preventiva dos acusados.
O caso de Igor Peretto não apenas expõe traições e relações complicadas, mas também provoca uma reflexão sobre a violência dentro de relacionamentos e o papel fundamental que a sociedade e as autoridades desempenham na prevenção desse tipo de crime.
Com o processo ainda em andamento, Praia Grande e seus habitantes aguardam por justiça e por respostas para um ato de horror que impactou a comunidade.