Às vésperas da instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do INSS, o Palácio do Planalto intensificou os esforços para mitigar os possíveis impactos da investigação. O clima é tenso, considerando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta uma crise de popularidade marcada por uma série de notícias negativas e pressão crescente de partidos aliados. A estratégia do governo envolve a montagem de uma “tropa de choque” experiente na comissão e um foco direcionado para o governo anterior, liderado por Jair Bolsonaro, visando investigar o início de um esquema de descontos indevidos nas aposentadorias.
A estratégia do governo para a CPI do INSS
O governo está consciente de que a execução de sua estratégia não será fácil. As consequências do escândalo que engendrou a CPI já resultaram na demissão do ex-ministro da Previdência, Carlos Lupi, e de Alessandro Stefanutto, ex-presidente do INSS. Apesar de a Controladoria-Geral da União (CGU) ter iniciado a apuração que desbaratou o esquema, a explosão dos descontos indevidos ocorreu durante a gestão de Lula, levantando suspeitas sobre entidades ligadas ao Partido dos Trabalhadores (PT), como a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), leu o requerimento que criou a CPI, um passo que fortalece os laços entre o Planalto e o legislativo. A articulação política do governo agora se concentra na formação do grupo que deverá iniciar os trabalhos em agosto, após o recesso parlamentar. Nomes de senadores e deputados com histórico em CPIs foram escolhidos, incluindo Otto Alencar (PSD-BA), Omar Aziz (PSD-AM) e Paulo Pimenta (PT-RS), cuja presença é considerada crucial para contrabalançar integrantes do bolsonarismo, como o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG).
A liderança de Omar Aziz na comissão
Aziz, um dos vice-líderes do governo, deve presidir a CPI, tendo já presidido a CPI da Covid-19 em 2021, que trouxe desgaste considerável à imagem do governo anterior. A relatoria, cuja designação é responsabilidade da Câmara, ainda está indefinida, mas o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), já confirmou que não será de membros do PT ou do PL, levantando especulações sobre o equilíbrio de poder na comissão.
Potenciais depoimentos e nomes importantes na investigação
Os integrantes do governo reconhecem o potencial destrutivo da CPI, que contará com deputados e senadores. Entre os possíveis convocados para depor estão o atual ministro da Previdência, Wolney Queiroz, o ex-ministro Carlos Lupi, o presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, e Alessandro Stefanutto, ex-chefe do instituto. Essa comitiva de figuras centrais pode criar sérios desafios para o governo, especialmente em um contexto já turbulento.
Por outro lado, o líder do PDT, Mário Heringer (MG), promete se manter próximo a Wolney nas questões da crise, notando que sua bancada, apesar de independente, atua com uma postura crítica às atuais diretrizes do governo.
Do lado oposicionista, há um entendimento de que a escolha do relator será decisiva para os rumos da CPI. O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), expressou descontentamento pela exclusão de seu partido do processo, enfatizando que tal decisão só facilita a vida dos responsáveis por esquemas fraudulentos.
Exploração política do escândalo
Uma das frentes do governo é associar a figura do empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “careca do INSS”, ao ex-presidente Jair Bolsonaro, dado seu papel central no esquema de fraudes. Durante o período eleitoral em setembro de 2022, Antunes participou de uma mobilização para arrecadar doações “simbólicas” para a campanha de Bolsonaro.
Jorge Kajuru (PSB-GO) levantou a possibilidade de explorar outras conexões, como a de Frei Chico, irmão de Lula, que é vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi). Com suspeitas de que a associação obteve vantagens com os descontos indevidos, a oposição pode usar essa ligação para atacar o governo.
Lideranças governistas, no entanto, têm rebatido essas acusações, afirmando que as fraudes têm raízes anteriores a administração atual e que a operação policial que desbaratou o esquema foi uma iniciativa de Lula, buscando preservar os direitos dos aposentados e responsabilizar os culpados.
A CPI do INSS não é apenas um reflexo das fraquezas do governo Lula em controlar sua base legislativa, mas também um campo de batalha para futuras narrativas políticas, onde a verdade sobre as fraudes e responsabilidades será minuciosamente contestada e interpretada.