No último encontro realizado na ONU em Genebra, o Observador Permanente da Santa Sé, Arcebispo Ettore Balestrero, enfatizou que “desarmamento não é fraqueza”, em um forte apelo à ampliação do Tratado de Ottawa. A visita do arcebispo ocorre em um contexto global em que a preocupação com a retirada de alguns países da Convenção contra minas antipessoais se torna cada vez mais evidente.
Importância da ratificação do Tratado de Ottawa
A cada novo Estado que ratifica a Convenção, reforça-se o compromisso da comunidade internacional em combater o uso de minas antipessoais, proporcionar assistência às vítimas e prevenir danos futuros. O arcebispo Balestrero expressou sua alegria com a recente ratificação por parte das Ilhas Marshall da Convenção Internacional sobre a Proibição do Uso, Armazenamento, Produção e Transferência de Minas Antipessoais e sobre a Sua Destruição. “Estamos profundamente preocupados com os rumores da saída de alguns Estados-parte”, comentou Balestrero, ressaltando a importância da continuidade deste esforço conjunto durante sua intervenção na sessão de trabalhos, que ocorreu no dia 20 de junho.
Desarmamento e desenvolvimento humano
Em seu discurso, Balestrero destacou que a Convenção estabelece uma conexão clara entre desarmamento e desenvolvimento, colocando a dignidade humana como centro das operações. Ele expressou “profunda preocupação” com as vítimas causadas por minas antipessoais e resíduos explosivos de guerra, muitas vezes envolvendo crianças que enfrentam “ferimentos e traumas que mudam a vida”. O arcebispo sublinhou que os Tratados não são apenas obrigações jurídicas, mas compromissos éticos para com as gerações presentes e futuras.
“O respeito aos acordos internacionais sobre desarmamento e ao direito internacional humanitário não é um sinal de fraqueza, mas uma demonstração de força e responsabilidade coletiva”, acrescentou Balestrero. Suas palavras foram inspiradas nas mensagens recorrentes do Papa Francisco, que frequentemente enfoca a necessidade de práticas de paz e desarmamento em sua comunicação com os líderes mundiais.
Crítica aos gastos militares e a busca pela paz
O arcebispo também abordou um ponto crítico e alarmante: os gastos militares recordes. Com números que chegam a impressionantes 2.700 bilhões de dólares a nível global, essa quantia para armamentos revela um “grave desequilíbrio e até um escândalo”, especialmente quando comparada aos escassos recursos que são direcionados para assistência humanitária e desenvolvimento integral. “É inaceitável que tantos recursos sejam desviados de necessidades básicas enquanto milhões de pessoas enfrentam fome e desespero”, enfatizou Balestrero.
Ele sustentou que “nenhuma paz é possível sem um verdadeiro desarmamento” e manifestou a solidariedade da Santa Sé com o apelo do secretário-geral da ONU, António Guterres, sobre a proteção de vidas inocentes, que depende de ações e compromissos coletivos. O arcebispo reafirmou a necessidade urgente de retornar à razão e ao diálogo em um contexto global repleto de tensões, buscando evitar qualquer escalada de conflitos.
Um chamado à reflexão
“Não devemos nunca nos acostumar com a guerra”, concluiu Balestrero, ao decorrer de seu discurso. O apelo à construção de uma cultura de paz e vida ressoou como um lembrete de que, para a comunidade internacional, a luta pelo desarmamento não é apenas uma questão política, mas uma questão moral que transcende fronteiras e afetos.
A Santa Sé, portanto, continua a ser uma voz ativa na promoção de um mundo onde o desarmamento é visto não como um sinal de fraqueza, mas como um passo essencial em direção à paz e ao desenvolvimento humano integral. O discurso de Balestrero em Genebra serve como um convite à ação e à reflexão, destacando que a verdadeira força reside na capacidade de proteger aqueles que mais necessitam e de promover uma cultura de paz.