Brasil, 20 de junho de 2025
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Relatório da PF expõe conflitos entre Abin e Polícia Federal

Documento revela disputas internas no governo Lula e acusações de obstrução de investigações sobre crimes de Bolsonaro.

O relatório final da Polícia Federal (PF) sobre a atuação da chamada “Abin paralela” coloca em evidência a intensa disputa interna no governo Lula entre as cúpulas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e a própria PF. No documento, os investigadores alegam que a atual gestão da Abin, que tem a responsabilidade de coletar informações estratégicas, estaria tentando obstruir a apuração de crimes supostamente cometidos durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ações da Abin paralela e suas consequências

Em mensagens e documentos coletados, surgem indícios de que o atual chefe da PF, Andrei Rodrigues, virou alvo da cúpula da Abin em 2023. Antes de ser indiciado, o diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, indicado por Lula, protestou contra a motivação política que teria influenciado o inquérito e chegou a afirmar que “a montanha ia parir um rato”.

No relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a PF afirma que a Abin, uma instituição essencial ao Estado, foi utilizada para perseguir adversários políticos de Bolsonaro e minar a integridade do sistema eleitoral. O ex-presidente é acusado de integrar uma organização criminosa e de ser o “principal destinatário” de ações ilegais, incluindo uma suposta trama golpista.

A apuração sobre o caso teve início após uma reportagem do jornal O GLOBO, em março de 2023, expor a compra de um sistema de espionagem pela Abin, conhecido como FirstMile, com o objetivo de monitorar a localização de alvos predeterminados em todo o Brasil.

Governança e conflito de interesses na Abin

A gestão da Abin sob indicação de Lula foi classificada pela PF como parte do “núcleo do embaraçamento da investigação”, incluindo figuras como Corrêa, apontados por supostamente acobertar servidores alvos do inquérito. Apesar do indiciamento, Lula decidiu manter Corrêa no cargo, considerando que o indiciamento em si não era motivo suficiente para uma mudança.

Assessores de Lula mencionam uma “guerra corporativista” entre a PF e a Abin, que estaria alimentando uma disputa de narrativas entre as duas instituições. Esta complexa dinâmica resulta em um cenário onde o presidente pondera sobre as versões apresentadas por cada lado.

Para a PF, Corrêa cometeu crimes como embaraçar investigação, prevaricação e coação. A PF aponta que ele “agiu para controlar as oitivas e garantir que os servidores não cooperassem” com as investigações.

As relações pessoais e políticas entre líderes das instituições

O atual chefe da Abin, que tem uma longa relação de confiança com Lula, é oriundo da PF e já teve cargos de destaque em governos anteriores. Sua relação com o presidente é consolidada, tendo comandado a Força Nacional de Segurança e exercido a diretoria-geral da PF. Ao nomeá-lo, Lula deu a Corrêa autonomia para reformular a Abin e simplificar o fluxo de informações de inteligência.

Apesar disso, antes do término da investigação, Rodrigues e Corrêa estavam em disputa pela centralidade das informações estratégicas que deveriam chegar a Lula. Enquanto Corrêa tem uma relação próxima ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, Rodrigues é aliado do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e da primeira-dama Janja da Silva.

O relatório final da PF revela tentativas do antigo número dois da Abin sob Lula, Alessandro Moretti, de atingir Andrei Rodrigues. Em comunicações interceptadas, Moretti busca ajuda de colegas para coletar informações que pudessem ser usadas contra o chefe da Polícia Federal, sugerindo uma estratégia de ataque político.

Os desdobramentos da investigação

Moretti, então diretor-adjunto da Abin, estava particularmente interessado em saber se Rodrigues estaria “incentivando” uma greve interna, ao mesmo tempo em que a PF enfrentava uma mobilização de suas tropas por recomposição salarial. Em suas mensagens, ele solicita informações concretas sobre a conduta de Rodrigues, revelando um clima de desconfiança e rivalidade.

Ambos, Rodrigues e Moretti, foram indiciados por obstrução de Justiça e não se manifestaram sobre as acusações. A PF identificou que Moretti estava buscando apoio para atacar Rodrigues politicamente, indicando que via as investigações como um jogo político em vez de uma apuração de crimes.

O que deixa claro o relatório da PF é que a atual gestão da Abin tentou criar um fato político para pressionar o então ministro Flávio Dino. A intenção seria desviar a atenção das investigações sobre a “Abin paralela”, o que pode ter impactos significativos na política interna do governo Lula e na confiança pública nas instituições de inteligência.

As revelações do relatório da PF não apenas acentuam a fragilidade das instituições de segurança, mas também enfatizam a emergência de um debate necessário sobre a transparência e a ética na gestão de informações sensíveis, que são fundamentais para a estabilidade democrática no Brasil.

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